biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

conversas significaram para nós a revisão das nossas certezas sobre as formas de construção
biográfica do gênero na contemporaneidade.
Há que se registrar também, que, dentro do presídio (lugar onde os sujeitos da
pesquisa se localizam), devido à complexidade e aos problemas que diariamente os envolvem,
não nos ofereceram um lugar tranquilo para que entrevistássemos as mulheres de um modo
cômodo para as investigadas. Aliás, não nos autorizaram a entrar no interior do presídio com
aparelho de gravação ou qualquer outro objeto eletrônico. As gravações, por determinação da
direção, tiveram que ser feitas na parte externa, lugar onde se localizam os ambientes da
cozinha para os funcionários, a sala da direção, a secretaria, a sala da defensoria pública e a
sala das/os assistentes sociais e dos/as psicólogos/as.
A busca de estratégias para tentar minimizar essa dificuldade se tornava então
necessária. A percepção da dinâmica cotidiana do presídio (dias e horários de maior
movimento, como: dias de visitas íntimas e familiares, dias e horários de atendimentos dos
profissionais às encarceradas, horários de banho de sol, horários de trancamento das
prisioneiras, dias e horários das aulas, etc.) nos ajudou a resolver esse problema,
direcionando-nos ao alcance do objetivo, no que se refere à realização das entrevistas. Por
exemplo, marcamos as entrevistas com as selecionadas, somente nos dias e horários em que
as salas dos/as advogados/as, psicólogos/as ou assistentes sociais não estavam reservadas para
atender às encarceradas. Nesses dias, aproveitávamos as salas desses profissionais para
realizar o nosso intento (as entrevistas), cumprindo, ao menos parcialmente, aquelas regras.
Com a ajuda dessas e de outras estratégias, fomos, aos poucos, ganhando a empatia e a
confiança das encarceradas para contarem as suas histórias. Antes da entrevista e durante sua
realização, sabíamos que o nosso agir como pesquisadoras durante o diálogo com as mulheres
seria o diferencial na realização e no sucesso das mesmas. Estávamos conscientes de que, na
história de vida, é o narrador quem decide o que narrar, mesmo que se tenha antes esboçado
um roteiro.
Convém enfatizar que, depois que conseguimos um lugar parcialmente tranquilo e
propício para proceder às entrevistas, foi mais fácil fazer valerem as narrações das
encarceradas, principalmente a narração de pontos específicos de suas biografias que, para
elas, tiveram maior significado.
O relato sobre a descrição desse momento, que envolveu: as disposições das
encarceradas para narrarem suas histórias, as condições do contexto onde foram entrevistadas,
o equipamento utilizado para a gravação das entrevistas e o seu tempo de duração, bem como
sobre o guia/roteiro que conduziu as narrativas (ainda que sem interferir na liberdade das