biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

dos presídios não conseguir provocar essa reflexão para uma mudança de atitude dos
encarcerados, ela estará simplesmente criando criminosos qualificados.
No segundo periódico selecionado para esse levantamento - a Revista Educação &
Sociedade - não encontramos nenhuma publicação que, direta ou indiretamente, abordasse a
temática do crime. Já na Revista Educação & Pesquisa , encontramos uma que se ligava à
temática e cujo título era: Narrativas sobre a privação de liberdade e o desenvolvimento do
self adolescente (OLIVEIRA & VIEIRA, 2006).
Essa publicação, embora se enquadre mais no campo da psicologia do que no da
educação, levantou ideias muito próximas das que são defendidas na teoria da biograficidad,
por Alhei e Dausien (2007). Suas autoras se apoiam na ideia de que os adolescentes privados
de liberdade podem produzir novas significações acerca de si mesmos, por meio do
desenvolvimento do self, um conceito da psicologia que se refere ao papel desempenhado
pelo próprio sujeito no processo de reorganização interna e externa do ser, através da relação
com o outro no contexto cultural. Admitem que as narrativas, nesse processo, são muito
importantes, pois servem como instrumento de organização da experiência subjetiva e social,
consequentemente, da vida mental (BAMBERG, 2004A; 2004B; CHANDLER, 2000;
BRUNER, 1997, apud, OLIVEIRA & VIEIRA, 2006).
Tais premissas, ainda que ligadas ao campo da psicologia, lembraram-nos algumas das
características e especificidades da biograficidad, que defende a ideia de que os sujeitos são
capazes de reelaborar as próprias experiências de vida, por meio das aprendizagens que
assimilam subjetivamente, aproximando-se de alguns modelos teóricos da psicologia sobre o
desenvolvimento do self, os quais apostam na capacidade dos sujeitos de produzirem novas
significações sobre si mesmos, por meio da relação de interdependência com o outro, através
da interação social em contextos socioinstitucionais concretos.
A última análise que fizemos sobre o que foi observado nesses três periódicos
selecionados nos permitiu comprovar a existência de uma grande lacuna, no que diz respeito à
abordagem do tema da criminalidade, ou de temáticas afins, na área da educação,
confirmando a relevância deste trabalho para ampliar os estudos sobre o tema. Ainda mais
porque, pelo que vimos, os poucos cientistas da educação que pesquisam esse tema não o
fazem dentro de uma perspectiva biográfica e, muito menos, de gênero. O que se vê são
discussões quase somente ligadas a problemas de ordem estrutural e pedagógica, que
envolvem as tentativas de ressocialização dos presidiários e das presidiárias, através da
educação, porém sem a consideração de suas biografias.