biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

o fato de que a maioria (as que estão livres), mesmo vivendo sob as mesmas condições e nos
mesmos contextos em que viveram as que atualmente se encontram presas, não enveredou
pelo mundo do crime? Que aprendizagens fizeram com que se desviassem desse caminho?
Como explicar também a criminalidade de mulheres que vivem em contextos elevados sócio-
economicamente? Não parece fácil responder a essas questões, todavia concordamos com
Pais (2003, p.117), que defende que [...] não devem os contextos físicos ou ecológicos ser
encarados como causa dos atos individuais, mas apenas excitantes [...] .
Partindo desse pressuposto, focalizamos este estudo na ideia de que os sujeitos,
regulados pelo que constroem socialmente, são capazes de dar um sentido individual às suas
próprias ações, fundado por meio das interações com os outros indivíduos. As biografias de
aprendizagens das encarceradas, nesse sentido, servem para analisar as mediações que
ocorrem entre as ações (individuais) e a estrutura e/ou entre a história individual e a história
social de cada uma delas.
Entendemos, todavia, que, na análise de tais mediações, era imprescindível que se
conhecesse como elas próprias interpretam suas experiências e as aprendizagens que delas
resultaram e, ainda, se atribuem a elas o fato de terem enveredado no mundo do crime.
Esses e os demais fatores que elencamos anteriormente nos induziram a entender que é
no interior das experiências de vida (sejam elas vividas em contextos formais, não-formais ou
informais) que as pessoas adquirem as aprendizagens necessárias para a construção de suas
biografias individuais e que, dependendo de como essas aprendizagens se relacionam com as
biografias (identidades) e com as estruturas, podem conduzir as pessoas para a marginalidade
e a criminalidade.
Nesta pesquisa, estamos trabalhando com a hipótese de que as aprendizagens das
mulheres investigadas têm pontos circunstanciais parecidos, que são favoráveis a sua
aproximação com a atividade criminosa. Compreendemos, então, que as decisões de vida
estão ligadas às aprendizagens informais que acompanharam a construção das suas biografias
no processo de socialização. Por isso pressupomos que a probabilidade de essas mulheres se
envolverem com atividades criminosas seria bem menor se a maior parte das aprendizagens
que acompanharam suas trajetórias de vida tivesse sido adquirida em processo de
aprendizagem formal (escolaridade ou perspectivas de mudar de vida através da escolaridade,
por exemplo).