19.04.2013 Views

biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mesmas <strong>mulheres</strong>, vimos também <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinteresse pela escola, <strong>de</strong>vido à<br />

ausência <strong>de</strong> sentido que foi atribuída à vida.<br />

Outro aspecto importante foi verificado em dois casos narrados: experiências <strong>de</strong><br />

perseverança em relação aos processos escolares, vivenciadoas por Isabel e Lia, ainda que<br />

tivessem sendo vividas experiências <strong>de</strong> fracasso escolar e <strong>de</strong> trabalho. Nesse sentido, uma<br />

constatação muito frequente foi o fato <strong>de</strong> as interrupções ou o abandono da escola terem sido<br />

causados em <strong>de</strong>trimento da opção ou necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver outras experiências, ligadas à<br />

maternida<strong>de</strong>, ao trabalho e à relação amorosa, por exemplo. A experiência não-vivida em<br />

processos escolares também foi uma constatação nesse eixo <strong>de</strong> análise.<br />

Há que se registrar que, embora a literatura indique que a escola é um importante<br />

espaço <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> ampliação das oportunida<strong>de</strong>s para os sujeitos e que tenhamos<br />

<strong>de</strong>fendido a hipótese <strong>de</strong> que, através <strong>de</strong>la, haveria menos possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> essas <strong>mulheres</strong> se<br />

envolverem com ativida<strong>de</strong>s criminosas, não parece, em uma primeira visão, que ela contribuiu<br />

para lhes propiciar uma trajetória <strong>de</strong> vida diferenciada, em que as suas construções biográficas<br />

se afastassem <strong>de</strong> mundos <strong>de</strong> vida ligados à criminalida<strong>de</strong>.<br />

Não se po<strong>de</strong>, entretanto, sustentar essa afirmação, consi<strong>de</strong>rando que todas as <strong>mulheres</strong><br />

entrevistadas são <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> baixa escolarida<strong>de</strong>. Isso nos permite refletir as consequências<br />

do não-vivido, ou seja: Até que ponto a escola po<strong>de</strong>ria ter possibilitado novas condições <strong>de</strong><br />

sociabilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> ampliações <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s capazes <strong>de</strong> afastar essas <strong>mulheres</strong> da<br />

criminalida<strong>de</strong>?<br />

Se, <strong>de</strong> um lado, a variável família aparece como a suposta principal causa do tipo <strong>de</strong><br />

história <strong>de</strong> vida que conduziu as investigadas à criminalida<strong>de</strong>, há que se consi<strong>de</strong>rar, em<br />

contrapartida, o próprio tipo <strong>de</strong> família que serviu <strong>de</strong> referência para a construção <strong>de</strong> suas<br />

<strong>biografias</strong><br />

cujas marcas são também a ausência da escolarida<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

trabalhos precários e a vivência <strong>de</strong> outras experiências em um mundo circulado e produzido<br />

pela pobreza e pela marginalida<strong>de</strong>. Nesse sentido, a escola po<strong>de</strong>ria ser compreendida como o<br />

caminho que propicia outro tipo <strong>de</strong> vida a essas pessoas e a construção <strong>de</strong> <strong>biografias</strong><br />

diferentes.<br />

A continuação do estudo sobre essas mesmas <strong>mulheres</strong>, do ponto <strong>de</strong> vista do<br />

encarceramento, e outras localizadas em contextos <strong>de</strong> vida semelhantes (do ponto <strong>de</strong> vista das<br />

vivências sociais, econômicas, culturais, etc.) àqueles em que as <strong>encarceradas</strong> construíram<br />

suas <strong>biografias</strong>, mas que, no entanto, não partiram para a criminalida<strong>de</strong>, é o que nos <strong>de</strong>safia<br />

para o futuro. A i<strong>de</strong>ia é estabelecer comparações e testar hipóteses sobre o que leva um grupo<br />

a enveredar neste mundo, enquanto o outro não o faz.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!