biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
trabalho em <strong>de</strong>trimento da escolarização. Em outros momentos, quando a opção colocava em<br />
cheque o casamento ou a criação dos filhos, o trabalho ficava em último plano. Em algumas<br />
narrativas, foi contado que, quando se separavam do companheiro, era preciso retomar<br />
algumas ativida<strong>de</strong>s que lhes propiciassem alguma compensação financeira. Essas ativida<strong>de</strong>s,<br />
entretanto, nem sempre eram consi<strong>de</strong>radas legais e socialmente aceitáveis 53 .<br />
Se, <strong>de</strong> um lado, a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados fornecidos por essas <strong>mulheres</strong> em suas<br />
narrativas auxiliou para a i<strong>de</strong>ntificação das <strong>aprendizagens</strong> que, possivelmente, contribuíram<br />
para direcionar suas <strong>biografias</strong> a mundos <strong>de</strong> vida ligados ao crime, <strong>de</strong> outro, apresentaram<br />
características muito comuns ao que tem sido divulgado na literatura sobre as populações<br />
femininas <strong>de</strong> classes pobres, mesmo quando as evidências <strong>de</strong>monstram existir uma relação<br />
direta entre <strong>mulheres</strong> <strong>encarceradas</strong> e nível socioeconômico baixo.<br />
Ainda quando esse fator seja consi<strong>de</strong>rado condição prepon<strong>de</strong>rante para os crimes<br />
comumente encontrados nos cárceres femininos - furtos e tráfico <strong>de</strong> drogas - pergunta-se: Que<br />
fatores contribuem para que <strong>mulheres</strong> pertencentes às classes pobres, que vivenciam<br />
processos <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> trabalho socialmente <strong>de</strong>sprestigiados e situações <strong>de</strong><br />
marginalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> exclusão, não envere<strong>de</strong>m pelo mundo do crime? Nesse sentido, o trabalho<br />
seria apenas uma variável explicativa para o fenômeno da criminalida<strong>de</strong> entre as <strong>mulheres</strong>,<br />
mas não se po<strong>de</strong> dizer que ele seria a sua principal causa.<br />
A análise das trajetórias <strong>de</strong> <strong>aprendizagens</strong>, através do terceiro e último eixo <strong>de</strong> análise<br />
- a escola - foi guiada pelas seguintes questões: Como se <strong>de</strong>senvolveram as <strong>aprendizagens</strong> das<br />
investigadas no processo <strong>de</strong> escolarização? Que experiências foram vividas e/ou não vividas<br />
nesse processo? Como essas experiências <strong>de</strong> <strong>aprendizagens</strong> escolares vividas (ou não) foram<br />
assimiladas subjetivamente e <strong>de</strong>pois aplicadas nos diferentes processos <strong>de</strong> vivências?<br />
As narrativas apontaram que, das cinco entrevistadas, uma era analfabeta (não tinha<br />
vivido processo algum <strong>de</strong> escolarização); duas não tinham completado o Ensino Fundamental<br />
(tiveram poucas experiências <strong>de</strong> <strong>aprendizagens</strong> na escola); uma havia completado esse nível<br />
<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, e outra cursara o Ensino Médio, mas não o concluiu.<br />
A experiência da reprovação escolar foi constatada em todas as narrativas das<br />
participantes da pesquisa que haviam cursado o nível fundamental (completo ou incompleto).<br />
A frequência com a qual essa experiência ocorreu, durante a trajetória escolar <strong>de</strong> duas<br />
entrevistadas (as mais jovens da amostra), ficou evi<strong>de</strong>nte em suas narrativas. Entre essas<br />
53 Tráfico <strong>de</strong> drogas e roubos, furtos simples a pessoas que pareciam ter boas condições socioeconômicas, ou em<br />
estabelecimentos comerciais, foram consi<strong>de</strong>rados trabalhos por algumas <strong>encarceradas</strong>.