biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
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Governo Fe<strong>de</strong>ral, cujo objetivo é exatamente o <strong>de</strong> dar oportunida<strong>de</strong> a pessoas como Isabel,<br />
jovens <strong>de</strong> 18 a 24 anos, <strong>de</strong> concluírem o Ensino Fundamental, para elevar sua escolarida<strong>de</strong>.<br />
No caso da entrevistada abaixo, evi<strong>de</strong>ncia-se uma trajetória escolar motivada por uma<br />
situação familiar temporária. Ela narra que, nos seus primeiros anos <strong>de</strong> escolarização, o seu<br />
interesse pelos estudos se <strong>de</strong>via apenas à gratidão que tinha pela pessoa que ajudou sua mãe<br />
a criá-la e que lhe possibilitou ótimas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escolarização.<br />
[Comecei] com 6 anos. Comecei na alfabetização. Eu era bem interessada,<br />
eu queria passar <strong>de</strong> ano porque eu era muito cobrado <strong>de</strong> mim, pela parte da<br />
minha madrinha. Eu estu<strong>de</strong>i em colégio particular. Foi ela quem me <strong>de</strong>u um<br />
bom estudo. [...].Ela gostava muito <strong>de</strong> mim, ela dizia assim: antes <strong>de</strong> eu<br />
morrer eu quero <strong>de</strong>ixar você, pelo menos você terminar seus estudos . Mas<br />
era porque eu era danada né? (JUDITE).<br />
Observa-se que Judite reconhece as oportunida<strong>de</strong>s que lhe foram garantidas em sua<br />
trajetória escolar e atribui o não aproveitamento <strong>de</strong>ssas oportunida<strong>de</strong>s a uma índole<br />
pessoal/subjetiva ( eu era danada ) que, quando manifestada, contradizia os interesses e os<br />
objetivos da escola. O que isso nos sugere para interpretação é que talvez o conteúdo<br />
transmitido pela escola não correspon<strong>de</strong>sse às aspirações <strong>de</strong> <strong>aprendizagens</strong> <strong>de</strong> Judite.<br />
Possivelmente, esses conteúdos não apresentavam vestígios <strong>de</strong> ligação com o seu mundo<br />
vivido e com a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero, como argumenta Tozoni-Reis (2002, p. 83).<br />
[...] os conteúdos <strong>de</strong> ensino que veicula essa escola e que são muito<br />
diferentes da vida cotidiana dos alunos das classes populares, mais do que<br />
serem instrumentos <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> conhecimentos produzidos<br />
socialmente, são instrumentos que esvaziam as funções <strong>de</strong> formação humana<br />
crítica e reflexiva para promover o ensino da or<strong>de</strong>m, da disciplina e da<br />
submissão.<br />
Da compreensão acerca das consequências negativas que se po<strong>de</strong>m provocar, quando<br />
se distancia a escola do mundo da vida dos seus educandos, foi que Alheit e Dausien (2007)<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram uma mudança radical no ato educativo. Eles alegam que, se o objetivo da<br />
educação é favorecer o encurtamento <strong>de</strong> distâncias entre os sujeitos e a emancipação humana,<br />
o ato educativo, nos seus mol<strong>de</strong>s tradicionais, <strong>de</strong>ve ser modificado.