biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Com seu olhar panóptico, a escola controla, separa, analisa, diferencia e<br />
regula os alunos que são configurados, adaptados, enquadrados. O educando<br />
não é estimulado a conquistar o seu espaço, a usar o seu tempo, mas a<br />
aceitar uma or<strong>de</strong>m já estabelecida que ela não sabe por quem nem por que<br />
foi instituído. Ele não é convocado a <strong>de</strong>senvolver-se, a expandir-se, mas a<br />
aceitar e respeitar o controle, a vigilância dos seus gestos, do seu corpo, <strong>de</strong><br />
sua mente. O espaço e o tempo são separados e divididos não apenas para<br />
otimizar a aprendizagem e menos ainda para libertar, agregar e solidarizar,<br />
mas para vigiar e punir (Foucault), para segregar e submeter, para<br />
transformá-los em células solitárias, acuadas e fracas.<br />
A partir <strong>de</strong>ssas premissas, <strong>de</strong>scobrem-se os diversos fatores que po<strong>de</strong>m implicar as<br />
<strong>de</strong>cisões ou circunstâncias que levam os sujeitos a construírem trajetórias escolares<br />
fracassadas, ligadas tanto ao abandono quanto às reprovações sucedidas durante o processo.<br />
A trajetória escolar <strong>de</strong> Isabel, exposta abaixo, é muito parecida com a <strong>de</strong> Diná. A<br />
diferença entre as duas po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntificada pela persistência <strong>de</strong> Isabel em continuar<br />
estudando, mesmo <strong>de</strong>pois das sucessivas reprovações nas diferentes séries que cursou.<br />
Comecei a estudar com 5 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Fiz o pré, fiz alfabetização, ai<br />
passei três anos na 1ª série, três anos. Tinha a formatura e eu nunca ia. Sei<br />
lá, acho que eu não tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar, sei lá! No começo do ano eu<br />
estudava, quando chegava no mês das provas já começava a <strong>de</strong>sistir,<br />
gostava <strong>de</strong> gaziar aula, começava a brincar, ai não queria saber <strong>de</strong> escola,<br />
ai pronto! [...]. Ai da outra vez eu vi todo mundo sendo aprovado assim, ai<br />
eu disse: sabe <strong>de</strong> uma coisa, eu vou estudar! , aí estu<strong>de</strong>i, estu<strong>de</strong>i. [...], aí<br />
comecei a estudar, estudar, ai fiz e passei né? Depois <strong>de</strong> 3 anos na mesma<br />
série eu passei, porque eu já sabia <strong>de</strong> cor e salteado já (risos). Era só uma<br />
preguiça da mente, uma preguiça <strong>de</strong> raciocinar. Aí eu fiz a segunda série<br />
passei, fiz a terceira passei, aí na quarta fui reprovada aí passei no outro<br />
ano. Aí na quinta eu passei 2 anos, sempre repetindo as séries, porque eu<br />
não gostava <strong>de</strong> estudar não, era muito ruim sei lá. Repeti a 5ª duas vezes, aí<br />
na terceira vez eu passei. Fui fazer a sexta, ai pra fazer a sexta-série eu fui<br />
pra o pró-jovem, [...]. (ISABEL).<br />
Curioso perceber que, mesmo tantas vezes reprovada, Isabel, ao contrário <strong>de</strong> Diná,<br />
concluiu o Ensino Fundamental. Uma tentativa <strong>de</strong> explicação para esse fato po<strong>de</strong> ser<br />
encontrada no âmbito das discussões biográficas, ou seja, do sentido individual que os sujeitos<br />
po<strong>de</strong>m oferecer às construções das suas <strong>biografias</strong>. Não há como <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar também a<br />
influência em sua trajetória escolar <strong>de</strong> um Programa <strong>de</strong> Inclusão <strong>de</strong> Jovens criado pelo