biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

[...] o desempenho na escola podem ser influenciado por diversos fatores: as
condições socioeconômicas do estudante, a compatibilidade do estudo com a
inserção no mercado de trabalho [ver Filgueira, Filgueira e Fuentes (2000)],
as condições econômicas e sociais da região onde vive, as suas
características observadas, como idade e sexo, e as não-observadas, como
talento, determinação e vontade de continuar estudando. (LEON &
MENEZES-FILHO, 2003, p.418),
Com essa assertiva, vê-se a consideração de fatores que não culpabilizam somente os
sujeitos pelo seu fracasso na escola, mas a uma série de questões, que se não impedem,
dificultam o sucesso desejado. Verifica-se, então, a necessidade de uma educação que atenda
às reais necessidades de aprendizagens dos educandos, em suas especificidades,
considerando-se as suas identidades 47 . Por exemplo, os obstáculos pelos quais as mulheres
passam tanto para iniciar como para permanecer estudando muito se diferem daqueles
enfrentados pelos homens e por outros grupos sociais. Os seus objetivos escolares também
não são os mesmos. Assim, quando não são considerados esses obstáculos e objetivos de
aprendizagem, facilmente pode ocorrer com outras mulheres em processo de escolarização, o
que ocorreu com Diná.
Na narrativa de Diná, verifica-se que o desinteresse pelos estudos começou somente
quando ela estava na quarta série, período em que ela havia começado a trabalhar em casa de
família como empregada doméstica. Isso implica dizer que a sua condição de mulher, cujos
atributos e modelos de conduta são conferidos desde a infância, contribuiu para o seu
fracasso. Vê-se, aí, o viés de gênero impactando a trajetória escolar de Diná.
Por outro lado, a entrevistada interpreta o seu fracasso, associando-o à forma como a
escola está estruturada espacialmente. Ela atribui o seu desinteresse ao fato de ter que ficar
trancada por muito tempo, uma situação parecida (ainda que com diferenças) com a que ela
está vivendo atualmente no presídio. Isso nos lembrou a denuncia de Foucault (2002) sobre o
poder disciplinar exercido por várias instituições sociais, inclusive a escola, cuja organização,
segundo esse filósofo, segue o modelo panóptico das prisões e tem como mesmo objetivo
garantir corpos dóceis , disciplinados à sociedade. Nesse sentido, Goergen 48 argumenta:
47 La identidad aparece como instancia de mediación entre la subjetividad individual de una persona (las
necesidades individuales, deseos, expectativas y representaciones de un individuo) y las estructuras sociales
(crf. ROMMELSPARCHER, 1997, p. 250, apud, ALHEIT E DAUSIEN, 2007, p.127).
48 http://www.cori.unicamp.br/foruns/magis/evento5/Texto%20PEDRO.doc