biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
experiências <strong>de</strong> trabalho<br />
associadas ao mundo do crime: [...] eu só vim saber o que era<br />
emprego na minha vida, <strong>de</strong>pois que eu tive o meu primeiro filho. Eu tinha 17 anos .<br />
(JUDITE, 32 anos).<br />
No quarto caso, o processo biográfico <strong>de</strong> aprendizagem, no curso da vida da<br />
entrevistada, configurou-se como um processo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e igual aos processos biográficos<br />
das <strong>de</strong>mais <strong>encarceradas</strong>, ligado a uma socialização específica do gênero feminino.<br />
Olha na minha adolescência, eu não tive muito tempo pra isso não<br />
(paquerar, namorar), por que eu trabalhava muito. É como eu disse pra<br />
você, eu fui pra São Paulo eu tinha 13 anos, né? Eu saí da lavoura e fui<br />
direto trabalhar <strong>de</strong> cozinheira <strong>de</strong> um mini restaurante. [...]. Então eu digo<br />
pra você, a minha adolescência eu acho que foi muito boa, eu acho que eu<br />
fui feliz ! Acho não, eu fui feliz na minha adolescência! Por que eu fui feliz?<br />
Porque eu fiz tudo que eu realmente amava, que era trabalhar e ajudar<br />
minha mãe, que era a pessoa que eu mais amava nessa vida. Eu trabalhava<br />
o dia inteirinho. Eu saia da minha casa, tipo <strong>de</strong> seis e meia, sete horas da<br />
noite, quando chegava lá minha mãe tava, ai eu ficava por ali e no dia<br />
seguinte ia direto pro trabalho, tomava um banho e <strong>de</strong>pois dormia e ia<br />
direto pro trabalho. No dia <strong>de</strong> folga [...] minha mãe dizia pra mim: Maria<br />
você vai folgar amanhã eu dizia: Eu folgo amanhã . então olha, essa<br />
roupa tudinho é pra você lavar amanhã, essa aqui tudinho é pra você<br />
passar, o almoço e o jantar é seu! Pronto !!! Fechou o meu dia <strong>de</strong> folga!<br />
[...]. Então minha vida foi isso, foi trabalho, foi conviver com a minha mãe<br />
[...]. Trabalhar era o meu lazer na gra<strong>de</strong> São Paulo [...]. (LIA).<br />
O relato <strong>de</strong> Lia acerca <strong>de</strong>ssa questão aparece associado ao quarto mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vida da<br />
mulher sugerido por Dausien (1996), ou seja, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Vida não-vivida , que diz respeito<br />
a uma construção biográfica <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong> que se sacrificam pelos outros, dificultando ou não<br />
conseguindo a conquista <strong>de</strong> sua autonomia.<br />
De um modo geral, o que disseram as <strong>mulheres</strong> investigadas sobre suas experiências<br />
<strong>de</strong> trabalho reforçou o que foi comprovado naqueles dados estatísticos anteriormente<br />
apresentados, que apontaram uma inserção precária da maioria <strong>de</strong>las no mundo <strong>de</strong> trabalho, e<br />
elucidou a estrutura <strong>de</strong> exigências contraditórias em que elas constroem as suas trajetórias<br />
profissionais, já que são obrigadas ou a conciliar o trabalho com as ativida<strong>de</strong>s domésticas e<br />
outros projetos <strong>de</strong> vida (como a continuida<strong>de</strong> dos estudos, a qualificação profissional etc.), ou<br />
a interromper essas trajetórias, em função da vivência <strong>de</strong> outras experiências <strong>de</strong> vida:<br />
casamento, criação dos filhos, cuidados com a família etc.