biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
en espiral<br />
[...] ela era mulher da vida né? Ela vivia no bar da feira, lá numa boate<br />
chamada Maria Oião. Vivia ali naquelas boates que tem por ali no centro<br />
da cida<strong>de</strong>. [...].O trabalho <strong>de</strong> Nice era o mesmo da minha mãe, era boate.<br />
[...], quando eu já tava com os meus 15 anos, ai não podia ter mulher <strong>de</strong><br />
menor <strong>de</strong>ntro da boate não sabe? Porque o juiz prendia as meninas na casa<br />
<strong>de</strong> cativa. (MADALENA).<br />
Ela trabalhava assim no campo, em lavoura né. (LIA).<br />
Essas informações esclarecem o pensamento <strong>de</strong> Dausien (2007) sobre o movimiento<br />
em que se <strong>de</strong>senvolvem as construções biográficas do gênero. É nesse<br />
movimento, segundo ela, que estão [...] las posibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformación y las<br />
emergencias, pero también las persistencias, las inercias y la reproducción<br />
(DAUSIEN,<br />
2007, p.42). Para as nossas entrevistadas, foi a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reprodução , e não, a <strong>de</strong><br />
transformação, que movimentou a construção <strong>de</strong> suas <strong>biografias</strong> <strong>de</strong> gênero nesse domínio da<br />
vida (o trabalho). Isso implica dizer que, nesse aspecto, não foram verificadas ações<br />
contraditórias àquelas prescritas nos seus mundos <strong>de</strong> vida.<br />
Para além <strong>de</strong>ssa constatação, observamos, nos relatos abaixo das entrevistadas,<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> curso <strong>de</strong> vida marcados por alternâncias, combinação, abandono e/ou<br />
<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> experiências. A apropriação <strong>de</strong> um ou <strong>de</strong> outro mo<strong>de</strong>lo orienta-se tanto<br />
por uma [...] lógica <strong>de</strong> la construcción interna <strong>de</strong> la historia <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong> aquel código <strong>de</strong><br />
experiência biográfico , como por [...] estímulos <strong>de</strong>l entorno social, [...] . (ALHEIT e<br />
DAUSIEN, 2007, p.131).<br />
No primeiro caso, vê-se um exemplo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> curso da vida cuja marca é a<br />
<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> e o rompimento biográfico, enquadrando-se, portanto, no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vida<br />
<strong>de</strong>scontínua sugerida por Dausien (1996). A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> abandonar o estudo para trabalhar,<br />
abandonando, em seguida, essas duas experiências (estudo e trabalho) em função da família,<br />
foi tomada seguindo uma orientação transmitida implicitamente por um saber <strong>de</strong> fundo<br />
biográfico . Tal <strong>de</strong>cisão teria impactado negativamente a biografia <strong>de</strong> Diná, uma vez que a<br />
sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>lituosa foi motivada, conforme narrou, pela experiência dramática vivida na<br />
relação conjugal.<br />
Eu estudava <strong>de</strong> noite e trabalhava o dia todo. Eu fazia a 4ª série, e foi nesses<br />
4 anos que eu comecei a trabalhar, aí eu <strong>de</strong>sisti. Quis não porque era muito<br />
cansativo, aí no outro dia eu tinha que acordar cedo. Aí pronto! Aí no tempo<br />
que eu engravi<strong>de</strong>i foi que eu <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> uma vez! Nem trabalhava mais e nem<br />
estudava. Foi no tempo que eu fui morar com o pai da minha filha. (DINÁ).