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biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

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mãe como principal referência familiar, a ausência <strong>de</strong>la em suas <strong>biografias</strong> fora interpretada<br />

como favorável aos seus envolvimentos com mundos <strong>de</strong> vida ligados ao crime. Na narração<br />

da infância, elas sempre se lembravam das suas mães quando refletiam sobre suas<br />

experiências nessa fase da vida:<br />

[...], ela não me dava atenção! A gente quando tem uma mãe, quando tá com<br />

uma dúvida, com um problema aí a gente chega na mãe da gente assim:<br />

Mãe eu tô com isso! , aí ela chega senta e conversa. Uma mãe sempre<br />

chega e diz: Filha como foi a aula filha? Deixa eu ver seus ca<strong>de</strong>rnos,<br />

<strong>de</strong>ixa eu ver isso, como é que você tá? Minha mãe nunca foi isso, minha<br />

mãe verda<strong>de</strong>ira, não sabia se eu estudava, não sabia como era meu dia a<br />

dia, nunca se interessou por nada disso, sempre trabalhando, trabalhando,<br />

pra ela tudo o que importava era o trabalho, o que valia mais era o<br />

trabalho. Então eu ficava, botava na minha cabeça: Meu Deus, minha<br />

mãe...! . E eu via muito gente, muitas mães assim boas pras filhas e as<br />

filhas, chamava nome, esculhambava. Minhas amigas mesmos tinham mães<br />

ótimas e nunca <strong>de</strong>ram valor, e eu que tive uma mãe assim rígida, sempre<br />

quis que minha mãe fosse boa, tivesse ali meu lado, quando eu fosse dormir<br />

me <strong>de</strong>sse um boa noite, um abraço, um beijo, que um filho sempre quer isso<br />

<strong>de</strong> uma mãe. Dê um conselho, uma palavrinha amiga: Não filho, isso não é<br />

assim não, isso é assim! ; Filho, boa noite! ; ao contrário, <strong>de</strong> manhã<br />

sempre me acordava nos gritos, sempre me tratava mal minha mãe. Até hoje<br />

quando ela vem aqui, da última vez que ela veio aqui ela me tratou tão mal!<br />

Fui dar um abraço nela ela negou, ela virou as costas! (Isabel).<br />

Ah mulher, o que marcou [a minha infância] foi a sauda<strong>de</strong> que eu tive <strong>de</strong>la,<br />

somente! Não gosto nem <strong>de</strong> me lembrar viu? (Lágrimas nos olhos da<br />

entrevistada). Mulher eu queria ter ela do meu lado!! Eu queria bem a Nice<br />

(a mulher que lhe criou), ainda hoje eu quero bem a Nice ainda. Mas o que<br />

mais me marcou foi a sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, eu não gosto nem <strong>de</strong> falar mulher. Eu<br />

sofri viu um pouquinho? Eu sofri até umas horas! Na casa <strong>de</strong> uma, na casa<br />

<strong>de</strong> outro. Passava um mês na casa <strong>de</strong> um, passava um mês na casa <strong>de</strong> outro.<br />

(Madalena).<br />

Observa-se, na primeira fala, a representação da entrevistada sobre como ela acha que<br />

<strong>de</strong>ve ser uma mãe e sobre o que, no entanto, ela não teve. O papel da mãe, para Isabel, é<br />

compreendido <strong>de</strong>ntro daqueles mol<strong>de</strong>s da família tradicional, aquela que dá carinho, atenção e<br />

que, acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>ve zelar pela educação dos filhos. A mãe, <strong>de</strong>sse modo, serviria como<br />

uma espécie <strong>de</strong> barreira aos seus possíveis envolvimentos com o mundo do crime. A projeção<br />

i<strong>de</strong>alizada da mãe encobre, a nosso ver, os <strong>de</strong>mais significados existentes sobre o lugar da<br />

mulher-mãe na família nos dias <strong>de</strong> hoje. Essa, embora queira, nem sempre po<strong>de</strong> dar a atenção

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