biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
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Portanto, não seria exagero afirmar que a construção da subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Madalena<br />
teria sido comprometida em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal experiência, que envolveu, ao redor <strong>de</strong>la, outras<br />
questões sociais, ligadas às incertezas e aos riscos das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rno-contemporâneas,<br />
especialmente para as pessoas marginalizadas.<br />
Dessa constatação, emergem algumas interpretações - uma <strong>de</strong>las é a <strong>de</strong> que o<br />
abandono materno teria afetado a sua estrutura psicológica e, em consequência disso, ela teria<br />
reproduzido a trajetória <strong>de</strong> vida da sua mãe e da mulher que a criou até os 15 anos. A análise<br />
das <strong>de</strong>mais categorias esclarece melhor essa nossa interpretação. Aliás, a própria encarcerada<br />
alega que, se tivesse tido uma família, sua vida teria sido diferente: Acho que eu seria outra<br />
pessoa, mulher, não tava nesse lugar não (MADALENA).<br />
A quinta entrevistada revelou ter vivido diversas experiências no âmbito da família,<br />
como: a perda do pai na infância<br />
e, em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>ssa perda, a migração para outro<br />
Estado junto com a sua mãe e irmãos, a perda da mãe no início da juventu<strong>de</strong> - pouco <strong>de</strong>pois<br />
do seu casamento, e a perda <strong>de</strong> um irmão. As <strong>de</strong>mais experiências vividas nesse contexto<br />
estiveram associadas a outros domínios da vida, como o trabalho e a escolarização. Sobre<br />
essas experiências associadas, ela conta:<br />
A gente tinha meio dia pra trabalhar e meio dia pra estudar. Nós<br />
estudávamos <strong>de</strong> manhã, eu e o meu outro irmão - das sete da manhã até às<br />
onze da manhã, íamos pra casa, tomava banho, almoçava e íamos pra roça<br />
trabalhar. E ainda quando chegávamos em casa a gente tinha por obrigação<br />
tomar um banho, jantar, escovar os <strong>de</strong>ntes direitinho e ir pra mesa fazer a<br />
lição pra no dia seguinte irmos pra escola. Isso quando nós chegávamos da<br />
roça. (LIA).<br />
Percebidas as associações das experiências familiares <strong>de</strong>ssa encarcerada com outras <strong>de</strong><br />
diferentes domínios da vida, somos conduzidas ainda mais a concordar com Dausien (2007),<br />
em relação ao que afirma sobre a construção biográfica específica do gênero feminino, pois,<br />
segundo ela, as Experiencias particulares, que son relevantes con vistas a la «socialización<br />
<strong>de</strong> genero», han sido integradas en el saber biográfico y conectadas con otras experiencias<br />
(DAUSIEN, p.41).<br />
Em quase todas as narrativas, vimos experiências familiares marcadas por condições<br />
<strong>de</strong> vida precárias e por carências sentidas pela ausência da mãe nos seus percursos<br />
biográficos. Para duas entrevistadas, especificamente (Isabel e Madalena), que entendiam a