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biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

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numa gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, numa metrópole né? E ai a gente foi trabalhar e eu<br />

fiquei ajudando minha mãe. Ai aos 20 anos, aos 19 anos eu perdi a minha<br />

mãe, com 19 anos mesmo eu me casei, aos 20 eu tive a minha filha que hoje<br />

tem 26 anos e aos 29 eu tive o meu filho Pedro. (LIA).<br />

Observa-se, nesses relatos, a associação das experiências das <strong>encarceradas</strong> com as <strong>de</strong><br />

outras <strong>mulheres</strong>, cuja representativida<strong>de</strong> influenciou os seus modos <strong>de</strong> intervenção social e a<br />

construção <strong>de</strong> suas subjetivida<strong>de</strong>s. A primeira entrevistada, por exemplo, não evi<strong>de</strong>nciou, em<br />

sua narrativa, as experiências que marcaram o seu processo <strong>de</strong> socialização no interior da<br />

família. No entanto, ao contar que não teve convivência com seu pai - já que ele havia sido<br />

morto e que foi criada pela sua avó - já que não tinha familiarida<strong>de</strong> com a própria mãe - uma<br />

vez que essa não fez questão <strong>de</strong> criá-la, Diná acaba <strong>de</strong>ixando visíveis as carências que sofrera<br />

no seu âmbito doméstico. Essas, possivelmente, impulsionaram a construção da sua<br />

subjetivida<strong>de</strong>, responsável pela estruturação das experiências posteriormente vividas e<br />

também aquelas não-vividas.<br />

A segunda entrevistada, ao relatar sua experiência no contexto familiar, <strong>de</strong>monstrou<br />

enquadrar-se no mesmo perfil cultural da primeira, já que também sofreu carências familiares<br />

e construiu seu perfil biográfico, orientando-se pelos seus contextos domésticos, que se<br />

mostraram <strong>de</strong> riscos à socialização. A ressignificação das experiências vividas e não-vividas,<br />

no seio das famílias <strong>de</strong>ssas <strong>mulheres</strong>, teriam então produzido efeitos voltados não à<br />

emancipação humana, como enten<strong>de</strong> Freire 43 , mas a uma <strong>de</strong>ssocialização, como a enten<strong>de</strong><br />

Touraine 44 (1998).<br />

Esses efeitos estariam, na compreensão <strong>de</strong> Alheit e Dausien (2007, p.43), associados à<br />

[ ] relación entre la construcción biográfica <strong>de</strong>l género y la índole <strong>de</strong> estar vinculados a<br />

un género <strong>de</strong> las biografías , que é vista como<br />

[...] un movimiento en espiral inter<strong>de</strong>pendiente en el que se plantean las<br />

posibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformación y las emergencias, pero también las<br />

persistencias, las inercias y la reproducción (ALHEIT E DAUSIEN, 2007,<br />

p.43).<br />

43 Emancipação na perspectiva <strong>de</strong> Freire é apropriar-se e experimentar o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pronunciar o mundo, a<br />

vivência da condição humana <strong>de</strong> ser protagonista <strong>de</strong> sua história (FIGUEIREDO, 2005, P.05).<br />

44 Chamo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ssocialização ao <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong> papéis, normas e valores sociais pelos quais se construía o<br />

mundo vivido. A <strong>de</strong>ssocialização é a consequência direta da <strong>de</strong>sisntitucionalização da economia, da política e da<br />

religião (TOURAINE, 1998, p.53).

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