biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
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Ela disse, ainda, que o que a levou a cometer o <strong>de</strong>lito não tem nada a ver com a sua<br />
história <strong>de</strong> vida, pois enten<strong>de</strong> que essa foi uma <strong>de</strong>cisão pessoal, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />
circunstâncias sociais e históricas.<br />
[...] eu acho que eu seria assim hipócrita, seria uma pessoa que fugisse<br />
totalmente da minha responsabilida<strong>de</strong> em dizer pra você: olha, foi por só<br />
por lá trás eu ter passado o que eu passei que isso refletiu agora. E eu ia ta<br />
sendo injusta até comigo mesma se eu lhe disser isso (LIA).<br />
Quanto aos projetos <strong>de</strong> vida, para quando sair da prisão, ela conta que, embora<br />
carregando o título <strong>de</strong> ex-presidiária , quer voltar a trabalhar honestamente, como sempre<br />
fez, primeiro, para pagar o advogado que a está <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo e, em seguida, para continuar<br />
batalhando, junto com os filhos, pelas suas sobrevivências e satisfação dos seus projetos.<br />
Os retratos biográficos apresentados, resultantes das entrevistas realizadas, ajudaram-<br />
nos a tecer cinco <strong>biografias</strong>, das 48 <strong>mulheres</strong> <strong>encarceradas</strong> que fizeram parte da pesquisa. Eles<br />
possibilitaram a elucidação das principais marcas dos seus <strong>de</strong>senvolvimentos biográficos: a<br />
combinação <strong>de</strong> fases (a construção <strong>de</strong> uma família, o exercício <strong>de</strong> uma profissão e a<br />
formação/educação), as rupturas, as transições, as <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s, todas elas arraigadas em<br />
seus mundos <strong>de</strong> ação concretos, tal como os <strong>de</strong>finem Alheit e Dausien (2007).<br />
Com a elucidação <strong>de</strong> tais retratos, vimos predominar, entre as <strong>mulheres</strong> entrevistadas,<br />
histórias dramáticas, ligadas à ausência <strong>de</strong> uma referência familiar, experiências <strong>de</strong> trabalho<br />
infantil e <strong>de</strong> precárias inserções no mundo do trabalho na juventu<strong>de</strong> e na ida<strong>de</strong> adulta,<br />
experiências <strong>de</strong>ficitárias no processo <strong>de</strong> escolarização, e uma trajetória <strong>de</strong>lituosa ligada a<br />
todas essas questões que atravessaram as suas construções biográficas.<br />
Por outro lado, os retratos biográficos também revelaram a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas<br />
<strong>mulheres</strong> <strong>de</strong> usarem novos esquemas <strong>de</strong> estruturação biográfica, ligados a uma assimilação<br />
subjetiva das <strong>aprendizagens</strong> proporcionadas pelas suas experiências <strong>de</strong> vida e, com ela, a<br />
produção <strong>de</strong> um sentido biográfico próprio, ainda que associado a um espaço social<br />
imediatamente próximo. A tentativa <strong>de</strong> se afirmarem como sujeitos, tal como se refere<br />
Touraine (1998), foi uma constatação extremamente frequente nas narrativas.<br />
Em alguns casos, a ausência da mãe e/ou <strong>de</strong> uma referência familiar foi interpretada<br />
pelas próprias <strong>mulheres</strong> como propiciadoras dos seus direcionamentos biográficos. As<br />
narrativas revelaram também que as experiências vividas nas relações <strong>de</strong> gênero,