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biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

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Por outro lado, Lia justifica a ação <strong>de</strong>lituosa cometida, associando-a à preocupação<br />

com o bem-estar 42 dos filhos e o suprimento <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s, ainda que não<br />

fossem, segundo ela, necessida<strong>de</strong>s básicas emergentes. De modo especial, refere-se ao filho<br />

que faz o curso <strong>de</strong> Direito, para esclarecer aquelas necessida<strong>de</strong>s que teriam motivado sua<br />

ação. Assim explica:<br />

[...] eu achei que um dinheirinho a mais também não me fazia mal, e aí eu<br />

ajudava os meus filhos, sabe? Porque meu mundo sempre foi Deus, os meus<br />

filhos e o meu trabalho, sabe? Então, foi mais por isso! Não que eu estivesse<br />

passando por uma situação difícil, não tava não! [...]. [...] essa ajuda seria<br />

boa pros meus filhos, principalmente pra o meu filho que estuda, [...].<br />

Porque os livros <strong>de</strong> Direito são muito caros, tem livro até <strong>de</strong> 700,00 reais.<br />

Sobre o momento da prisão, Lia conta não ter tido nenhum reação negativa do ponto<br />

<strong>de</strong> vista policial: [...] eu fui a pessoa mais tranquila <strong>de</strong>ssa vida. Eu não respondi ninguém,<br />

não entrei em <strong>de</strong>sespero, sabe? Eu mantive a minha postura (LIA).<br />

Na prisão, Lia é a cozinheira, chefe da cozinha on<strong>de</strong> fazem as refeições os agentes<br />

penitenciários, diretores e <strong>de</strong>mais funcionários do sistema. No dia da entrevista, ela estava há<br />

quatro meses naquele lugar e esperava o seu julgamento. Conta que é muito querida pelos<br />

funcionários do sistema e que isso é motivo <strong>de</strong> olhares <strong>de</strong>sconfiados por parte <strong>de</strong> algumas<br />

presas:<br />

[...] lá <strong>de</strong>ntro a gente é muito criticada porque acham que a gente vem <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro pra fora pra entregar as coisas que vê lá <strong>de</strong>ntro. A gente fica como se<br />

tivesse levando e trazendo. Mas a gente nem comenta nada daqui lá <strong>de</strong>ntro,<br />

e nem nada <strong>de</strong> lá <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro aqui pra fora (LIA, 47 anos).<br />

Sobre o que é viver na prisão, ela conta que cada dia vivido representa uma vitória, já<br />

que se trata <strong>de</strong> um lugar <strong>de</strong> muita tensão, um verda<strong>de</strong>iro barril <strong>de</strong> pólvora constante<br />

e que<br />

isso muito a amedrontava: [...] eu já percebi que aqui é um lugar que se fala muito em faca<br />

não é? On<strong>de</strong> se fala muito em se esfaquear as outras assim, então isso é uma coisa que me<br />

amedronta muito (LIA).<br />

42 O bem-estar <strong>de</strong> uma pessoa, segundo Sen (2001, p.79), po<strong>de</strong> ser concebido em termos da qualida<strong>de</strong> do seu<br />

estado .

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