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biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

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Os condicionantes da estruturação biográfica <strong>de</strong> Lia são revelados quando se observa,<br />

em seus mundos <strong>de</strong> ação concretos, que se referem a posicionamentos no espaço social<br />

(ALHEIT E DAUSIEN, 2007), a marca da relação <strong>de</strong> gênero. Essa marca, segundo esses<br />

autores, afeta todas as <strong>de</strong>mais dimensões do espaço social. No caso <strong>de</strong> Lia, a relação com o<br />

seu cônjuge teria afetado a sua vida profissional pelo menos por um ano, uma vez que<br />

também foi nesse período que ela teve o seu primeiro filho.<br />

Ressalte-se que a marca da relação <strong>de</strong> gênero na vida <strong>de</strong> Lia não afetou somente o<br />

campo do trabalho, as suas implicações po<strong>de</strong>m ser analisadas <strong>de</strong> maneira mais profunda. O<br />

fato, por exemplo, <strong>de</strong> ela ter sofrido violência doméstica no casamento, como ressaltou, e <strong>de</strong><br />

ter <strong>de</strong>cidido a separação somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 17 anos <strong>de</strong> convivência, aponta-nos os outros<br />

caminhos que ela po<strong>de</strong>ria ter seguido, caso não tivesse aceitado tanto tempo <strong>de</strong> opressão.<br />

Lia revela, no entanto, em sua narração, que a sua biografia foi preenchida por uma<br />

intensa vida <strong>de</strong> trabalho, tanto durante a convivência com o esposo quanto <strong>de</strong>pois que se<br />

separou <strong>de</strong>le. Ela conta que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter passado um ano sem trabalhar, em função do<br />

casamento, começou a trabalhar em uma fábrica <strong>de</strong> vidro, on<strong>de</strong> passou quatro anos. Depois<br />

que saiu <strong>de</strong> lá, trabalhadou em uma empresa terceirizada, como encarregada <strong>de</strong> seção, e,<br />

posteriormente, em um hospital, como coor<strong>de</strong>nadora do setor <strong>de</strong> limpeza, on<strong>de</strong> passou cinco<br />

anos supervisionando cinquenta <strong>mulheres</strong> que cuidavam da higienização do hospital.<br />

Após essa experiência, em função da qualida<strong>de</strong> do seu trabalho, Lia conta que recebeu<br />

uma proposta irrecusável do dono <strong>de</strong> uma empresa terceirizada e aceitou. Essa teria sido a sua<br />

última experiência <strong>de</strong> trabalho antes do seu encarceramento. Aliás, quando cometeu o <strong>de</strong>lito<br />

que motivou sua prisão, estava <strong>de</strong>sempregada fazia três meses. Em relação a isso, ela explicou<br />

que fora presa por ter sido pega transportando droga <strong>de</strong> um Estado para outro. Alega não<br />

saber direito o que a teria feito aceitar, com tanta naturalida<strong>de</strong>, ess tipo <strong>de</strong> proposta:<br />

Eu agi como se fosse a coisa mais normal, mais social. Aliás, eu não sei<br />

dizer pra você, o que eu mais fui, se eu fui ingênua, ou se eu fui burra, ou se<br />

eu fui as duas coisas ao mesmo tempo! Eu me pergunto e falo: Meu Deus,<br />

o que é que eu fui? Burra, ingênua ou eu fui burra e ingênua ao mesmo<br />

tempo? (LIA).

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