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biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

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Atualmente na prisão, ela trabalha fazendo a limpeza dos setores on<strong>de</strong> se localizam os<br />

trabalhadores do sistema: agentes, diretora, psicólogos/as, assistentes sociais e advogadas/os.<br />

Disse ser muito querida por todos/as eles/elas, <strong>de</strong>vido ao seu bom comportamento. Com as<br />

<strong>de</strong>mais <strong>encarceradas</strong>, também afirma ter uma boa convivência, ainda que não seja bem vista<br />

por algumas pelo fato <strong>de</strong> estar trabalhando junto com o sistema, o que gera <strong>de</strong>sconfiança por<br />

parte das <strong>de</strong>mais.<br />

Um <strong>de</strong> seus gran<strong>de</strong>s sonhos, conforme narrou, é o <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a ler e a escrever. Ela<br />

disse nunca ter estudado na vida e teria feito isso somente <strong>de</strong>pois da prisão, quando começou<br />

a apren<strong>de</strong>r as primeiras letras numa turma <strong>de</strong> alfabetização ali existente.<br />

Outro sonho que ela cultiva e que, na sua interpretação, seria mais difícil <strong>de</strong> alcançar, é<br />

o <strong>de</strong> reencontrar a mãe que a abandonou: [...] eu tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver a minha mãe se ela<br />

aparecesse um dia, ela podia tá bem veinha, mas eu queria ver ela (MADALENA, 40 anos).<br />

Quanto aos projetos <strong>de</strong> vida fora da prisão, ela preten<strong>de</strong>, junto com seu companheiro, investir<br />

em um bar, ven<strong>de</strong>ndo bebidas e comidas. Para começar, ela afirma que receberá ajuda da<br />

diretora do presídio, que lhe prometeu o carrinho <strong>de</strong> churrasquinho .<br />

4.1.5 Retrato biográfico <strong>de</strong> Lia<br />

Lia é uma mulher batalhadora, cujo discurso é bem articulado. Tem 47 anos, é natural<br />

<strong>de</strong> Montes Claros<br />

MG, divorciada há onze anos e mãe <strong>de</strong> dois filhos jovens. Filha <strong>de</strong><br />

camponeses, Lia per<strong>de</strong>u seu pai muito cedo, quando tinha quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, vítima da<br />

doença <strong>de</strong> chagas, muito comum e pouco curável na época. Com a morte do seu pai, ela foi<br />

morar com a mãe e dois irmãos no Paraná, on<strong>de</strong> viveu até os 13 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Ela conta que,<br />

com a morte do pai, a mãe teria vindo para esse Estado porque nele a perspectiva <strong>de</strong> vida no<br />

campo era melhor do que na cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> nascera. Lá havia, como narrou, plantações <strong>de</strong> café,<br />

cana e algodão.<br />

Foi nesse Estado, portanto, em que Lia apren<strong>de</strong>u o ofício <strong>de</strong> agricultora, mesmo sendo<br />

ainda criança. Ela conta que o lugar em que ela e sua família viveram, nesse período, parecia<br />

uma colônia, com várias casas divididas entre as famílias dos trabalhadores rurais e as dos<br />

administradores. As condições financeiras da sua família eram compatíveis com a da época<br />

em que viviam. Sua mãe, como muitas outras daquele lugar, precisava da ajuda dos filhos na<br />

lavoura para honrar os compromissos com seus patrões e ganhar o necessário para sobreviver.<br />

O trabalho infantil foi, portanto, para Lia e seus irmãos, uma das marcas das suas<br />

trajetórias biográficas. Segundo Lia, isso não os impedia <strong>de</strong> estudar. Disse que sua mãe nunca

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