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biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

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etirando em seguida <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua roupa uma faca-serra. Conta Judite que, naquela hora,<br />

foi tomada pelo ódio e, para não morrer, tomou a faca da amiga e aplicou-lhe as facadas. Ela<br />

disse ter perdido o equilíbrio e o controle naquele momento.<br />

[...] eu perdi todo o meu equilíbrio, perdi todo o meu controle e o meu ódio<br />

tomou <strong>de</strong> conta <strong>de</strong> tudo na hora, minha raiva. Naquele momento ali eu<br />

ceguei, eu não via ninguém, eu não via nem quem tava com ela na hora<br />

(JUDITE).<br />

Duas horas <strong>de</strong>pois do ato cometido, ela foi presa. Contou que estava tão drogada que<br />

não teve a malícia <strong>de</strong> fugir.<br />

[...] fui pra casa, não tive nem a malícia <strong>de</strong> ir embora, <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> lá, <strong>de</strong><br />

fugir, não tive, enten<strong>de</strong>u? Eu fiquei atordoada, quando saí do local que tava<br />

fiquei andando <strong>de</strong> rua em rua, [...]. [...], fui abordada, por que a <strong>de</strong>legada<br />

tava bem pertinho <strong>de</strong> casa, não resisti a nada, fui tranquila, não tive<br />

condições <strong>de</strong> dar um <strong>de</strong>poimento na hora porque eu estava muito drogada<br />

(JUDITE).<br />

Em consequência disso, ela foi presa e con<strong>de</strong>nada a muitos anos <strong>de</strong> prisão e teve que<br />

apren<strong>de</strong>r a viver nesse contexto, já que sabia que ia passar muito tempo nele. O presídio, que<br />

ela nomeou <strong>de</strong> outro mundo , é caracterizado como um mundo em que não há confiança ;<br />

em que as pessoas fazem questão por tudo , já que não têm quase nada; um mundo em que a<br />

amiza<strong>de</strong>, o respeito, a união, a inveja, a ganância e a covardia se misturam; um mundo em que<br />

se apren<strong>de</strong> a dar valor à liberda<strong>de</strong>; um mundo em que as pessoas, as quais menos se<br />

valorizavam, passam a ser as mais importantes; um mundo em que se tem que se adaptar às<br />

coisas tristes, à rejeição, ao abandono; um mundo em que chorar é mais comum do que sorrir;<br />

um mundo em que a lua e as estrelas não po<strong>de</strong>m ser contempladas; enfim, um mundo em que<br />

as experiências se transformam em <strong>aprendizagens</strong> e em que as <strong>aprendizagens</strong> se transformam<br />

em novas experiências mesmo que não se queira.<br />

Um exemplo disso, que ela conta, foi a experiência <strong>de</strong> escrever um livro, vivenciada<br />

nesse tempo <strong>de</strong> prisão, que já dura mais <strong>de</strong> quatro anos. Ela conta que essa experiência<br />

<strong>de</strong>correu do fato <strong>de</strong> ter recuperado, nesse ambiente, o gosto pela leitura e pela escrita. A sua

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