biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

Somando-se a essa experiência materna, cujo tempo foi curto, Judite viveu, em
seguida, um relacionamento de quase seis anos com um homem por quem disse ter sido muito
apaixonada, e cuja vida foi perdida no mundo do crime. Abalada e depressiva, em razão do
ocorrido, ela começou a frequentar uma igreja perto de onde morava, na tentativa de aliviar a
sua dor. Nesse entremeio, entre a igreja e sua casa, começa a paquerar um homem, que seria o
seu futuro namorado e pai da sua filha. Foi ele, na verdade, quem a ingressou no mundo da
criminalidade.
[...] quando eu conheci ele na rua, foi ele que me ensinou a entrar no mundo
do crime, [...]. Ele perguntou a mim se eu sabia roubar, aí eu: Não, sei
roubar não visse! Ele fez: vamos dar uma volta comigo que eu te ensino. Aí
eu fui dá uma volta com ele (JUDITE, 32 anos).
Fora da prisão, o seu relacionamento com esse namorado durou apenas três meses,
depois ele acabou sendo preso, e ela perdeu o contato, ficou sem saber o que havia
acontecido. Com pouco tempo, ela recebeu um bilhete enviado por ele, pedindo que lhe
visitasse no presídio. Ela conta que ficou apreensiva com a proposta, pois nunca tinha ido a
uma cadeia, mas que logo passou a visitá-lo, inclusive, nos dias de visita íntima. Foi, portanto,
numa dessas visitas, que ela teria ficado grávida do seu segundo filho, uma menina.
Enquanto estava grávida, Judite deu encaminhamento/continuidade àquela vida do
crime que havia apenas começado a aprender com o namorado quando ele a levou para dar
uma volta , como vimos no relato acima. Na fala seguinte, ela explica as implicações daquela
volta, que significou a apresentação a esse mundo:
[...] o pior foi que eu gostei dessa história dessa voltinha, aí comecei a
frequentar a rua de noite, aí fui conhecendo outras pessoas, porque uma
leva pra conhecer as outras [...] Aí eu conheci de tudo, de prostituta, de
ladrão, de homicida, de traficante [...] (JUDITE, 32 anos).