biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
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fazenda, em que o pai era o vaqueiro. Donos e empregados, conforme relata Judite, moravam<br />
nessa fazenda em casas pegadas . Talvez representando um gesto <strong>de</strong> gratidão dos<br />
empregados para com os patrões, Judite se tornou afilhada <strong>de</strong>les. Ela se lembra, com carinho,<br />
daqueles que se tornaram seus padrinhos e disse que eles gostavam e que ainda gostam muito<br />
<strong>de</strong>la.<br />
Quando vieram para João Pessoa<br />
ela, a mãe e o irmão - foram morar em uma granja,<br />
localizada no Bairro do Altiplano, um bairro pouco populoso e caracterizado por abrigar, ao<br />
mesmo tempo, algumas favelas, residências <strong>de</strong> classe média e edifícios <strong>de</strong> luxo.<br />
A mãe <strong>de</strong> Judite veio <strong>de</strong> Cuité-Pb para João Pessoa com a garantia <strong>de</strong> que trabalharia<br />
nessa granja. Até mesmo a escola para sua filha já estava reservada. Moraram, então, nesse<br />
lugar, cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos e só saíram <strong>de</strong>pois que a dona da granja, que tinha muito apreço pela<br />
mãe <strong>de</strong> Judite, falecera.<br />
Quando isso aconteceu, Judite tinha 17 anos e já estava com o seu primeiro filho. Ela<br />
conta que a patroa da sua mãe a tratava como uma filha, até a colocou para estudar em escola<br />
particular: Eu estu<strong>de</strong>i em colégio particular. Foi ela quem me <strong>de</strong>u um bom estudo. Eu<br />
agra<strong>de</strong>ço primeiro a Deus e segundo a ela, mesmo ela não estando mais aqui (JUDITE, 32<br />
anos). Apesar disso, Judite sequer terminou o Ensino Fundamental, <strong>de</strong>sistindo <strong>de</strong> estudar na 7ª<br />
série, após duas reprovações.<br />
Conforme relatou, no começo do seu processo <strong>de</strong> escolarização (com seis anos <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>), era muito interessada nos estudos, porém, quando começou a namorar, foi per<strong>de</strong>ndo o<br />
interesse, tendo chegado até a pular o muro da escola para fugir.<br />
Ao contrário <strong>de</strong> Diná e <strong>de</strong> Isabel, cujas <strong>biografias</strong> retratamos anteriormente, durante a<br />
sua infância, Judite não fez outra coisa além <strong>de</strong> brincar e estudar, tendo começado a trabalhar<br />
somente aos <strong>de</strong>zessete anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> quando já tinha o seu primeiro filho. Nesse período, a<br />
dona da granja já havia falecido, e elas não mais moravam naquele lugar: [...] eu só vim<br />
saber o que era emprego na minha vida, <strong>de</strong>pois que eu tive o meu primeiro filho. Eu tinha 17<br />
anos<br />
(JUDITE, 32 anos).<br />
A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar o filho sozinha<br />
pois não tinha o apoio do pai, que era casado<br />
e teria dito não se responsabilizar com a criança que nasceria - e sem o apoio <strong>de</strong> quem a<br />
sustentara por muito tempo (a dona da granja), fez com que ela <strong>de</strong>cidisse procurar emprego.<br />
Trabalhou, portanto, exercendo funções <strong>de</strong> diarista, cuidadora <strong>de</strong> crianças e <strong>de</strong> pessoas idosas,<br />
ven<strong>de</strong>dora <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> beleza e lingeries. O fato <strong>de</strong> ter começado a trabalhar, no entanto,<br />
não impediu que ela doasse o seu filho a uma tia, com quem ele mora até hoje.