biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

Em um desses retornos ao presídio, foi pega com 12 pedras de crack dentro do pão que levava
para lá. Isso fez com que ela saísse do regime semiaberto e voltasse ao fechado, gerando-lhe
mais um processo.
Outro aspecto da vida de Isabel, que merece ser registrado em seu retrato biográfico,
diz respeito ao aspecto amoroso. Ela conheceu aquele que seria o seu companheiro e pai do
seu filho, numa festa de rua - prévia do carnaval. Em pouco tempo de namoro, eles foram
morar juntos, na casa da mãe dele, e o relacionamento durou quatro anos. Segundo ela, foi
uma experiência muito mais de sofrimento que de alegria, pois, além das humilhações por que
passava ao vê-lo com outras mulheres, sofria dele a violência doméstica. Ela conta que ele lhe
bateu até quando estava grávida. Por esses motivos, teria chegado um dia em que, não
aguentando mais aquela situação, resolveu ir embora, e, mesmo tendo sofrido ameaça de
morte pela decisão que tomou, não voltou mais.
Ela narra, ainda, que atualmente o ex-companheiro se encontra preso por ter cometido
um homicídio e que da prisão lhe envia cartas (que são entregues pela sua mãe), dizendo que
tinha passado a lhe dar valor e que, quando saísse, ia tentar uma reconciliação. Isabel, no
entanto, descarta essa hipótese.
Na prisão, além de estudar, Isabel tem desenvolvido algumas atividades artesanais e
trabalhado no jardim aguando e cuidando das flores. Ela também lava roupa das amigas
presas e ajuda na cozinha. Todas essas atividades são desenvolvidas pensando na remissão da
pena e em garantir o mínimo para poder comprar o seu cigarro semanalmente.
Sobre as demais experiências vividas nesse contexto, ela conta que aprendeu muito
com todas elas, mas também revela que teve que desaprender coisas que a própria vida lhe
ensinou, para poder conviver em paz naquele ambiente.
4.1.3 Retrato biográfico de Judite
Filha de camponeses, Judite é a mais nova entre cinco irmãos; tem 32 anos, é solteira,
tem dois filhos e está presa por ter cometido crime hediondo, cuja pena foi de 17 anos. Ela
nasceu em Cuité, interior da Paraíba, onde foi criada até os seis anos de idade. Com a
separação dos pais, Judite veio morar em João Pessoa, com a mãe e o irmão, na década de
1980. Seus outros irmãos, que eram mais velhos, saíram de casa há mais tempo. Teriam ido
tentar a vida em outras regiões brasileiras.
A infância de Judite, no lugar onde nasceu, foi muito curta e, por isso, as lembranças
que tem desse lugar são muito restritas. Ela lembra, no entanto, que seus pais moravam numa