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biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

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A mãe das meninas chegava assim, recebiam dinheiro aí diziam: Toma<br />

Lidiane, olhe tá aqui uma bonequinha pra tu! Toma fulana uma roupinha<br />

pra tu! , aí eu ficava olhando assim, minha mãe, trabalhava e nada pra<br />

mim. Sei não, viu? Doeu <strong>de</strong>mais a minha infância! (ISABEL, 21 anos).<br />

Além das experiências lúdicas vividas com as amigas da vizinhança, Isabel conta que<br />

viveu também com elas a experiência <strong>de</strong> pedinte nas casas do bairro nobre, vizinho ao em que<br />

morava.<br />

[...] eu já pedi esmolas já. Saía com duas, três, minha mãe saía pra<br />

trabalhar e eu saía com duas, três no João Agripino [...]. A gente ía nas<br />

casas, pedia alimento, a gente dizia que era pra doar. Que agente ia fazer<br />

uma campanha, que era pra doar (risos). É, a gente dizia por que a gente<br />

tinha vergonha assim né? (ISABEL, 21 anos).<br />

Essa realida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>ncia as estratégias utilizadas por Isabel e por suas amigas para<br />

lhes garantir o mínimo <strong>de</strong> satisfação das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sobrevivência, em um ambiente<br />

social precário, e a situação <strong>de</strong> pobreza em que elas viviam. O pobre, aqui, é entendido como<br />

[...] não apenas aquele que tem menos que os outros, mas sim aquele que não dispõe do<br />

mínimo <strong>de</strong> meios para viver (SEN, 1985, 1992, apud, ESTIVILL, 2006, p.107).<br />

No <strong>de</strong>correr da narrativa, Isabel conta, ainda, que, na infância, além <strong>de</strong> brincar e pedir<br />

esmolas, também estudou e trabalhou. E mesmo vivendo essas duas experiências<br />

simultaneamente, ela conseguiu concluir o Ensino Fundamental, ainda que passando por<br />

sucessivas reprovações durante esse percurso.<br />

O seu processo <strong>de</strong> escolarização começou aos cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, incentivado pela<br />

mãe <strong>de</strong> criação, que até em aulas <strong>de</strong> reforço a colocou quando foi necessário. Portanto,<br />

alegando [...] uma preguiça da mente, uma preguiça <strong>de</strong> raciocinar<br />

e o <strong>de</strong>sinteresse por<br />

estudar foi que Isabel justificou as suas reprovações na escola. Apesar disso, ela chegou a<br />

ingressar no ProJovem 37 , o que, talvez, tenha lhe favorecido concluir o Ensino Fundamental,<br />

embora somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> já estar presa.<br />

37 Programa Nacional <strong>de</strong> Inclusão <strong>de</strong> Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária do Governo Fe<strong>de</strong>ral.<br />

O mesmo é <strong>de</strong>stinado à capacitação e inclusão social <strong>de</strong> jovens entre 18 e 24 anos que ainda não concluíram o<br />

ensino fundamental. O jovem matriculado no programa recebe um benefício <strong>de</strong> R$ 100,00 mensais, durante o<br />

período do curso (12 meses), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que cumpra as metas estipuladas e tenha frequência mínima <strong>de</strong> 75% nas<br />

aulas.

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