biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
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Foi dois mundos assim, duas mães, dois pensamentos, duas educação, então<br />
e isso mexeu muito com minha cabeça. Minha mãe verda<strong>de</strong>ira me ensinava<br />
uma coisa, era mais rígida, já minha mãe <strong>de</strong> criação era mais boa, era uma<br />
pessoa muito maravilhosa (ISABEL, 21 anos).<br />
Observe-se que, ao dizer que essa experiência mexeu com a sua cabeça, Isabel tenta<br />
justificar a pessoa em que se tornou: uma jovem <strong>de</strong>linquente e, atualmente, encarcerada. Ela<br />
narra também que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> muitas idas e vindas da casa da sua mãe verda<strong>de</strong>ira , houve um<br />
dia em que ela <strong>de</strong>cidiu não voltar mais, indo, portanto, morar <strong>de</strong> vez com a sua mãe <strong>de</strong><br />
criação.<br />
O drama <strong>de</strong> Isabel nessa questão, no entanto, não terminou com essa <strong>de</strong>cisão, pois ela<br />
acabou tendo que voltar a morar com a mãe biológica, uma vez que a sua mãe <strong>de</strong> criação<br />
falecera. A experiência <strong>de</strong> tal perda foi revoltante e, segundo o seu relato, motivou-a a entrar<br />
no mundo das drogas, abrindo possibilida<strong>de</strong>s para a vivência <strong>de</strong> experiências as mais diversas<br />
ligadas a esse mundo.<br />
Antes, porém, <strong>de</strong> enveredar nesse e em outros mundos <strong>de</strong> vida, Isabel narra que,<br />
mesmo envolvida nesse drama, viveu, na sua infância e adolescência, outras experiências<br />
importantes para a construção <strong>de</strong> sua biografia. Com certo encantamento, ela conta, por<br />
exemplo, as experiências lúdicas vividas na infância, junto com outras crianças do seu bairro.<br />
Minhas bonecas eram umas bonequinhas <strong>de</strong> pano assim pretinha, veiiinha<br />
meu Deus! Aí a gente brincava, fazia roupa, tinha os maridos, a gente fazia<br />
até os maridos a gente fazia, os maridos e os bonequinhos assim pequenos<br />
<strong>de</strong> pano, fazia cama, travesseiro. Também gostava muito <strong>de</strong> brincar <strong>de</strong><br />
amarelinha, que é aquela que agente risca no chão e joga uma pedra, e <strong>de</strong><br />
casinha, <strong>de</strong> boneca. Assim, eu sempre gostava muito <strong>de</strong> brincar. Tinha uma<br />
brinca<strong>de</strong>ira caiu no poço, eu brinquei muito também (ISABEL, 21 anos).<br />
Embora tenha narrado, com satisfação, essa experiência, Isabel se lembrou, com<br />
tristeza, do fato <strong>de</strong> sua mãe biológica nunca ter lhe dado um brinquedo, ou qualquer outro<br />
presente como forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> carinho e afeto. Ela afirmou que, quando criança,<br />
sentia inveja <strong>de</strong> suas amigas, cujas mães se preocupavam em agradá-las com gestos como<br />
esse, <strong>de</strong>monstrando a atenção que tinha com elas.