biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...
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qual se inscreveu a marca do <strong>de</strong>lito e do aprisionamento. Essas experiências estiveram ligadas<br />
ao mundo do trabalho, aos processos educativos e/ou <strong>de</strong> <strong>aprendizagens</strong>, à vida conjugal e à<br />
prisão.<br />
As duas últimas se associaram ao processo <strong>de</strong> construção da biografia <strong>de</strong> Diná, uma<br />
vez que ela <strong>de</strong>cidira cometer o <strong>de</strong>lito por razões conjugais. Por outro lado, as duas primeiras<br />
que, na verda<strong>de</strong>, começaram a ser vividas antes das experiências amorosas, ainda que não<br />
<strong>de</strong>monstrem uma associação direta com a prática <strong>de</strong>lituosa e com o aprisionamento <strong>de</strong> Diná,<br />
revelam circunstâncias <strong>de</strong> vida exclu<strong>de</strong>ntes, propiciadoras da inserção no mundo da<br />
marginalida<strong>de</strong>, e consequentemente, da criminalida<strong>de</strong>.<br />
A ligação <strong>de</strong> Diná com o mundo do trabalho começou aos 12 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, quando<br />
passou a trabalhar em uma casa <strong>de</strong> família como empregada doméstica. Ela também trabalhou<br />
como ven<strong>de</strong>dora numa banca <strong>de</strong> roupas, localizada no comércio informal (camelô) <strong>de</strong> João<br />
Pessoa. Nesse trabalho, passou dois anos, tendo voltado em seguida a <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s<br />
domésticas em outra casa, cujo dono tinha uma lanchonete e recorria aos seus serviços quando<br />
precisava.<br />
No que diz respeito à experiência no contexto educativo, ou à sua ligação com os<br />
processos <strong>de</strong> <strong>aprendizagens</strong> formais, Diná afirmou ter estudado somente até a 4ª série, não<br />
tendo completado essa fase. Depois <strong>de</strong> sucessivas reprovações nessa mesma série, <strong>de</strong>sistiu <strong>de</strong><br />
estudar, alegando <strong>de</strong>sinteresse e cansaço pelo fato <strong>de</strong> trabalhar o dia todo. Sua ligação com o<br />
processo educativo fora, portanto, curto e <strong>de</strong>ficitário, <strong>de</strong>vido às duas experiências biográficas<br />
(trabalho e estudo), cuja combinação na infância e adolescência não é a mais apropriada,<br />
conforme alegam alguns estudiosos, como Marques (2001), Dallari (1986), Ferreira (2001) e<br />
Garcia (2002): Eu fazia a 4ª série, e foi nesses 4 anos que eu comecei a trabalhar, aí eu<br />
<strong>de</strong>sisti. [...] era muito cansativo, aí no outro dia eu tinha que acordar cedo (DINÁ).<br />
Aparece, então, <strong>de</strong> maneira muito clara, no itinerário biográfico <strong>de</strong> Diná, a lacuna do<br />
processo <strong>de</strong> escolarização em função do trabalho <strong>de</strong>senvolvido na adolescência. A experiência<br />
do trabalho, ainda que mal remunerado, era priorida<strong>de</strong>, naquele momento da sua vida, <strong>de</strong>vido<br />
à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobreviver. Registre-se, no entanto, que Diná abandonou tanto o trabalho<br />
quanto a escola, logo que se uniu ao seu parceiro conjugalmente e ficou grávida.<br />
Esses fatos ocorridos na vida <strong>de</strong> Diná refletem a inseguridad biográfica<br />
(WOHLRAB-SAHR, 1993, apud, ALHEIT, 2007), típica do curso <strong>de</strong> vida das <strong>mulheres</strong> nessa<br />
fase da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Para Alheit (2007, p. 137), isso <strong>de</strong>corre exatamente do fato <strong>de</strong> elas<br />
serem [ ] sistemáticamente por estructuras <strong>de</strong> exigencias<br />
contradictorias en la profesión, en la formación y en la familia (ALHEIT, 2007, P.127).