biografias de aprendizagens de mulheres encarceradas - Centro de ...

contexto onde nasceram, à idade, à ligação com o trabalho e com os processos de
formação/educação institucionalizados (escola, prisão).
De um modo geral, embora o grupo de entrevistadas apresente, à primeira vista,
características muito semelhantes do ponto de vista das vivências sociais, políticas,
econômicas, culturais e educativas, algumas diferenças nesses e noutros aspectos foram
observadas.
Das cinco investigadas, duas nasceram em João Pessoa, uma, em Bayeux (localizada a
apenas seis quilômetros dessa capital), outra, em Cuité (localizada no interior da Paraíba a
235 quilômetros de João Pessoa), e a última é natural de Montes Claros, interior de Minas
Gerais, mas residia em São Paulo, quando foi aprisionada nas imediações da cidade de João
Pessoa.
O nível de escolaridade do grupo também se revelou heterogêneo: das cinco
entrevistadas, uma nunca havia estudado (a não ser no presídio, conforme relatado), duas
tinham o Ensino Fundamental incompleto, a outra havia completado esse nível de
escolaridade, e a última havia deixado o Ensino Médio sem concluir.
Em relação às experiências de trabalho, todas revelaram ter desenvolvido algum tipo
de atividade antes do encarceramento, quase todas de baixa valorização social e condições de
trabalho precárias. Três delas trabalharam como empregadas domésticas: a primeira, desde a
infância; a segunda, no início da adolescência, embora tenha inicialmente se assumido apenas
como estudante e revelado seu trabalho somente durante a narrativa; e a terceira, além de ser
doméstica, também atuou com vendas de produtos de beleza e, na infância, nunca
desenvolveu qualquer atividade. A quarta mulher contou ter sido garçonete e dançarina de
boates, onde fazia strip-tease e se prostituía. Por fim, a quinta e última entrevistada disse que
tivera várias experiências de trabalho, sendo a primeira delas na infância, quando ajudava a
mãe na lavoura, e a última, desenvolvida poucos meses antes do seu encarceramento, como
supervisora de uma empresa de prestação de serviços gerais.
No que concerne à ação delituosa, as duas mais jovens tinham praticado assalto a mão
armada; uma delas praticou outros crimes além desse; a terceira cometeu homicídio; a quarta,
um furto simples numa loja de supermercado, e a última transportava droga (maconha), de
São Paulo para Natal, tendo sido descoberta durante a viagem.
O perfil da população investigada que ora apresentamos revelou aspectos ligados às
experiências sociais/estruturais. Os aspectos subjetivos/psicológicos das biografias, ligados a
essas experiências sociais, só puderam ser vistos através das narrativas, que permitiram a
verificação das práticas delituosas dentro de construções biográficas, justificadas, de um lado,