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ele. Se as nossas leis fossem outras, os dois se casariam; mas as nossas leis não<br />
consentem... Queixe-se de nossas leis, Sra. D. Genoveva!<br />
— Eu me queixo é da sorte, senhor Alfredo. Olhe que sempre somos muito<br />
caiporas!.<br />
— De hora em hora, Deus melhora! sentenciou gravemente o viúvo. Não<br />
desespere, D. Genoveva, não desespere! Quem mais do que eu teve motivos para<br />
perder o ânimo?...<br />
E Alfredo levantou-se. Eram horas de se ir chegando...<br />
— Então o quê, já vai? Que pressa!...<br />
— Estou já informado a respeito do Gabriel...<br />
— Mas, era só isso o que o senhor queria saber? Não disse também que<br />
tinha uma comissão delicada?...<br />
— Ah! sim, mas fica tudo resolvido com o que a senhora me declarou.<br />
— Meu Deus! quanta reserva!... Por que não se abre por uma vez, senhor<br />
Alfredo?... O senhor assusta-me!<br />
— Bem, nesse caso, vou falar-lhe com franqueza.<br />
E Alfredo tornou a sentar-se.<br />
— Desde que me acho empregado na casa do senhor Windsor, confidenciou<br />
ele, tive a fortuna de merecer, tanto deste como de sua família, toda a confiança e<br />
até estima. Ora, eu, que sempre fui reconhecido aos meus benfeitores, tornei-me<br />
para aquela gente um amigo dedicado e sincero. Por outro lado, devo grandes<br />
obrigações ao Gabriel, que foi quem me tirou da miséria e do abandono em que<br />
vivia. Pois bem, depois daqueles tristes acontecimentos na noite do fatal matrimônio<br />
da senhora sua filha, Gabriel teve ocasião de conhecer a D. Eugênia, filha mais<br />
velha de meu patrão, e desde logo nasceu entre os dois moços uma forte simpatia,<br />
que em breve se transformava em amor. Creio que chegaram a falar em<br />
casamento... Tudo isto, como vê a senhora, é muito natural e nenhuma<br />
conseqüência má teria, se não fosse o Gabriel haver passado a freqüentar<br />
regularmente a casa do patrão, avivando desse modo, no coração de D. Eugênia, as<br />
esperanças que ele próprio lá plantara...<br />
— E daí?...<br />
— Daí, é que a pobre menina se habituou a vê-lo, a falar-lhe, naturalmente<br />
tiveram de parte a parte os seus sonhos de felicidade; mas de repente, Gabriel<br />
desaparece, D. Eugênia, a principio apenas ressentida, foi pouco a pouco se<br />
entregando a uma tristeza profunda e doentia, até que ultimamente lhe sobreveio<br />
tosse acompanhada de febre, e ela, coitadinha! não come, dorme muito mal e há<br />
dois dias, enfim, que está para decidir!...<br />
Genoveva olhava-o com um ar aflito.<br />
O patrão ontem chamou-me em particular, e disse-me com os olhos cheios<br />
de água: "— Alfredo, estou com medo de perder minha filha mais querida! O médico<br />
declarou já que ela só o que tem é muita debilidade e melancolia, mas que pode vir<br />
a ser, de um momento para outro, atacada do peito. Ora, eu bem sei que a<br />
Eugeniazinha está desgostosa com a ausência do Gabriel... Tu me falaste várias<br />
vezes nesse rapaz e sempre lhe encareceste as qualidades... Pois então vai por aí;<br />
indaga a respeito dele, e vê se trazes alguma boa notícia para minha filha... Eu<br />
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