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— Sei cá! porque me casei com outro! Sabia lá que ali estava um doido<br />
furioso?...<br />
— E este rapaz tenciona acompanhar-te sempre?<br />
— Ainda não pensei nisso.<br />
— E se ele te abandonar?<br />
— Que abandone!<br />
— E sabes tu o que isso será?<br />
— Perfeitamente, e não falemos mais em tal. A "senhora ponha-se à<br />
vontade; dê-me a sua capa e o seu chapéu. Fica conosco para o almoço, não?<br />
— Não! não posso ficar; não desejo encarar com o teu amante...<br />
— Ainda está dormindo.<br />
Gabriel, com efeito, dormia, fatigado pela felicidade da noite. Fora uma<br />
singular noite de núpcias. Ambrosina era virgem, mas sabia já, por instinto, por<br />
índole, por inata perversão, todos os segredos do amor sensual. Entregou-se com<br />
arte, com talento. Ele, porém, amou-a com toda a dignidade de um noivo; amou-a<br />
convictamente, sentindo orgulho em possuí-la, cercando-a de ternuras respeitosas e<br />
de solicitudes de amigo.<br />
Supunha-se o infeliz deveras amado e sentia-se pronto a depor nas mãos da<br />
amante todas as suas esperanças e todo o seu futuro.<br />
— O Leonardo, calculava ele, mais cedo ou mais tarde, desaparece, e eu<br />
caso-me com Ambrosina. Ela será minha esposa, minha família, a mãe de meus<br />
filhos!<br />
Foi com estas palavras, repetidas pela filha, que Genoveva serenou um<br />
pouco e prometeu, ao retirar-se, freqüentar a casa de Gabriel.<br />
Entretanto, a pobre mulher, tempo depois, curtia o tédio do seu isolamento a<br />
aviar uma costura que tinha em mão, quando a campainha do jardim deu sinal.<br />
Foi ela mesma abrir. Era o Alfredo, o empregado público demitido.<br />
Estava outro o diabo do homem. Desde que Gabriel o socorrera, e o sr.<br />
Windsor, a pedido do comendador, o empregara no seu escritório comercial,<br />
voltaram-lhe os antigos hábitos de ordem e de asseio. Já não era o mesmo<br />
Marmelada; vinha escanhoado, com a camisa irrepreensível, bota engraxada e a<br />
sobrecasaca limpa.<br />
Genoveva recebeu-o com uma amabilidade triste e compungida. Depois das<br />
extremas palavras do comendador a respeito do pobre viúvo de Ana, ela o tratava<br />
com atenção quase religiosa, como quem cumpre um dever sagrado. Tinha-lhe<br />
estima e respeito, gostava de vê-lo com aquele ar austero e metódico, a falar<br />
pausadamente sobre assuntos sancionados pela moral pública.<br />
— Sente-se para cá, senhor Alfredo. Aí corre muito vento; pode fazer-lhe<br />
mal... Dê-me o seu chapéu. Eu vou trazer-lhe uma xícara de café.<br />
Alfredo agradecia, limpando com o lenço o suor da testa. Desculpava-se por<br />
estar dando incômodo, e queixava-se do calor.<br />
— Ah! não se pode respirar! confirmava Genoveva, assentando-se defronte<br />
da visita.<br />
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