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www.nead.unama.br<br />
Uma vez achava-se aí, como de costume. Era uma tarde esplêndida.<br />
Todavia, a natureza parecia ir morrendo à proporção que lhe escapava o dia, como<br />
se lhe fugisse a alma.<br />
Havia em tudo a sombra melancólica de uma saudade; as árvores<br />
murmurinhavam numa deliciosa agonia, e no seio da terra caíam as primeiras<br />
lágrimas da noite.<br />
Gabriel permanecia meditativo, a cismar no seu malogrado amor. Sem se<br />
regozijar com os últimos acontecimentos, sentia não obstante certo prazer amargo<br />
em pensar no sofrimento de Ambrosina e na desgraça de Leonardo.<br />
Ah! ela com certeza teria mais de uma vez se arrependido da escolha que<br />
fizera!... pensava o pobre rapaz; entretanto, se o tivesse aceitado a ele para marido,<br />
como seriam agora felizes!... que bela lua-de-mel não desfrutariam ao calor amoroso<br />
daquelas tardes!...<br />
E continuava a meditar: Que triste situação a dela!... afinal, não era casada,<br />
nem solteira e nem viúva... Não podia ser amada e nem podia amar, pois Leonardo<br />
não dava esperanças de melhoria... Pobre Ambrosina!<br />
E Gabriel, apesar de tudo, sentia que a amava sempre; como nunca! sentia<br />
que aquele doido amor, longe de perecer desabrochava em novos rebentões,<br />
viçosos e verdejantes.<br />
— Maldito! apostrofou ele; mil vezes maldito seja aquele homem, que veio<br />
despedaçar a minha felicidade!<br />
E escondeu a cabeça entre as mãos, a soluçar. Quando levantou, viu<br />
defronte de si Eugênia. Esta o observava silenciosamente, com um olhar cheio de<br />
doçura e melancolia.<br />
— Ah! exclamou Gabriel. Não sabia que estava aí...<br />
— Sim, vim mais esta vez importuná-lo com a minha presença...<br />
— Não; a sua presença só pode trazer-me esperança e resignação...<br />
Importunar-me a senhora! E por quê? por que não lhe causa tédio o infeliz que sofre<br />
e vive das suas próprias dores? Não! a senhora, que ultimamente se converteu em<br />
minha confidencial amiga, nunca será para mim uma importuna... Eu a estimo, D.<br />
Eugênia, como se fôramos irmãos.<br />
Eugênia abaixou os olhos.<br />
— Às vezes, continuou Gabriel, tomando-lhe as mãos; quero crer que nos<br />
aproxima a simpatia do sofrimento, quero crer que nesse coração, sereno e casto, já<br />
algum dia esfuziou também a tempestade. Eu lhe tenho falado de minha vida; disselhe<br />
com toda a franqueza os meus infortúnios... por que não me conta a senhora os<br />
seus?... Eu os saberia compreender... Vamos! diga-me alguma cousa dos seus<br />
segredos... Seja minha amiga.<br />
— Não! não lhe posso dizer cousa alguma...<br />
— Não tem confiança em mim?<br />
— Valha-me Deus! Tenho, o que não tenho são segredos... Vim procurá-lo<br />
aqui para lhe dizer que amanhã nos vamos embora... O senhor já é conhecido e<br />
estimado por minha família... apareça-nos...<br />
— Meu Deus! como está comovida!...<br />
— Não faça caso... Adeus...<br />
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