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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Alguns dias depois, o médico procurou o comendador para dizer-lhe que se<br />

retirava; a sua doente estava livre de perigo, e Gabriel já podia partir.<br />

O comendador ouviu-o com ar comovido e cheio de humildade. Súbita<br />

mudança havia ultimamente se operado nele; agora, ao contrário, parecia muitas<br />

vezes empenhado em praticar ações que o reabilitassem.<br />

— Compreendo, disse ele a Gaspar, que o senhor esteja agastado comigo.<br />

Tem razão... Fui grosseiro e mal reconhecido aos seus serviços; peço-lhe, porém,<br />

que me perdoe e que se não vá embora por enquanto... Trate ainda minha filha, e só<br />

se despeça quando a pobre menina voltar de todo à sua primitiva saúde... Ah! se o<br />

senhor soubesse quanto tenho sofrido nestes últimos dias... teria compaixão de<br />

mim...<br />

Gaspar cedeu afinal, mas declarou logo que não se separaria de Gabriel.<br />

— Ó senhores! respondeu o comendador, já reanimado. Ele ficará conosco.<br />

Longe de incomodar-nos, nisso nos dará o maior prazer... Creia-me que falo neste<br />

instante com toda a sinceridade!...<br />

Ficaram.<br />

Ambrosina volvia-se garrida e sã com os hábeis cuidados de Gaspar. Este<br />

quase lhe não abandonara a cabeceira até conseguir levantá-la da moléstia. Daí<br />

uma certa intimidade muito respeitosa entre os dois. A doente só o tratava por "Meu<br />

salvador", e lhe sorria afetuosamente.<br />

Uma ocasião, pediu-lhe ela licença para lhe dar um beijo na testa. Gaspar<br />

consentiu sorrindo, com um gesto paternal.<br />

— Olhe! disse-lhe a bela moça; desejo que o senhor seja muito meu amigo...<br />

Não calcula o respeito que me inspira a sua tristeza; pressinto por detrás dela<br />

alguma penosa recordação de amor...<br />

Gaspar fez-se mais pálido e sombrio.<br />

— Peço-lhe que me conte a história. Tenho até hoje ouvido falar tanto do<br />

Médico Misterioso!... Conte-ma. Suplico-lhe!<br />

— Não. Far-lhe-ia mal...<br />

— Porém, quando me não fizer mal... promete?...<br />

— Está bom, prometo, mas não se preocupe com isso...<br />

E o médico recaiu na sua habitual serenidade. Ambrosina ficou a olhar<br />

longamente para aquela fronte pálida e despojada como se interrogasse o mármore<br />

de um sepulcro.<br />

Gabriel, entretanto, também se restabelecia quanto ao corpo, porém<br />

absolutamente nada quanto ao espírito.<br />

À tarde saía do quarto, arrastando debilmente a sua mágoa, e ia assentarse,<br />

sombrio, debaixo das mangueiras, ao fundo da chácara. Comprazia-se então em<br />

deixar-se penetrar pela tristeza misteriosa do crepúsculo, e ficava horas esquecidas<br />

a olhar vagamente para o horizonte, que além se atufava nas últimas matizações da<br />

luz do sol.<br />

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