A Condessa Vésper - Unama
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www.nead.unama.br senhor, mas antes de partir nesta minha última viagem, fui autorizado a pedi-la em casamento. O comendador cedeu-ma ontem... — É falso! — Contenha-se! O senhor está fora de si. Ambrosina já me tinha prevenido dos seus rompantes... — Senhor! E Gabriel deu um passo para o outro. — Ela não o quer, continuou Leonardo; disse-me com franqueza. A mim, como homem de juízo cabe-me, todavia, evitar qualquer conseqüência má do passo imprudente que o senhor acaba de dar. No fim de contas, não tenho obrigação de explicar as minhas intenções; elas são conhecidas já da família de minha noiva. É a essa família que o senhor se deve dirigir para denunciar o que acabou de colher da sua espionagem. Boa noite, meu caro senhor! E, dizendo isto, Leonardo afastou-se rapidamente. Gabriel voltou ao carro, e entre soluços de dor e de cólera contou a Gaspar o ocorrido. — Nada disso me surpreende. Era caso previsto. Creio que agora mudaste de intenção a respeito de Ambrosina... — Amo-a cada vez mais! — Ora! isso já passa de loucura! — Talvez, mas é a verdade! No dia seguinte, Gabriel leu, por um prisma de lágrimas, a participação do casamento de Ambrosina, que ela própria lhe remetera. Seria efetuado daí a dois meses, fora da cidade. CAPÍTULO XVIII A SIMPÁTICA EUGÊNIA Vamos refluir ao ponto em que este romance principiou, vamos penetrar de novo na bela chácara em que se fez o malogrado casamento de Ambrosina; vamos, finalmente, saber o que sucedeu às cenas da loucura de Leonardo. Mas, antes disso, antes de fecharmos este grande parêntese, cumpre esclarecer o leitor sobre os últimos acontecimentos que procederam àquela situação. Resume-se tudo em poucas palavras: O coronel, depois de alguns dias de prostração, expirou nos braços do filho, ao lado de Gabriel e de Alfredo. O pobre velho não foi abandonado nos seus últimos momentos, sacramentou-se, fechou os olhos com a fisionomia banhada na mais doce resignação, e a alma tranqüilamente ungida pela consolação religiosa. Morreu como um justo. Gaspar, pouco depois, propôs a Gabriel uma viagem à Europa. Gabriel consentiu, contanto que assistissem primeiro ao delongado casamento de 78
www.nead.unama.br Ambrosina; o outro protestou, mas afinal teve de ceder, porque o enteado não desistia uma polegada do seu intento. — Repara que é uma tremenda loucura o que tencionas fazer, Gabriel! Lembra-te de que, um vez casada Ambrosina, nada mais tens que esperar dela! — Deixa-me! respondeu insolitamente o moço. Faze tu se quiseres a tal viagem; eu, haja o que houver, irei ao casamento! — E prometes partir comigo logo ao depois?... — Prometo. — Palavra de honra? — Palavra de honra! — Bem, nesse caso eu te acompanharei à casa do comendador. A festa foi extraordinária. A casa destinada aos noivos era uma bela chácara, que se prestava admiravelmente aos caprichos do gosto e às fantasias da bolsa. Leonardo, sofrivelmente rico, não olhou despesas; o comendador, por outro lado, procurou dar o maior brilho ao casamento da filha. E tudo saiu muito à medida dos seus desejos. Foi enorme a concorrência. A chácara apresentava um aspecto deslumbrante com a sua caprichosa iluminação; repuxos, cascatas, alpendres, caramanchões artificiais, estátuas simbólicas, tudo estava cheio de luz ou coberto de flores. O Melo Rosa não descansara um mês inteiro. Fora ele o encarregado de dirigir os preparativos do festejo. Durante esse tempo vivia preocupado exclusivamente com aquele trabalho. Controlava operários, copeiros, encomendava doces, tinha idéias, lembrava esquisitices de grande efeito, desenhava planos e sonhava maravilhas originais. O Reguinho ajudava-o muito e era quem saía a fazer compras, a procurar cortinas, laçarias, estatuetas, cantoneiras e mais petrechos de ornamentação. Foi um mês de pândega na chácara, enquanto a preparavam para o noivado. Melo Rosa conhecia vários boêmios, que entendiam de pintura e viviam por aí a trocar as pernas; carregou com eles para lá, deu-lhes de comer e beber, e os homens puxaram a valer pelas tintas e pelos pincéis. O Melo estava no seu elemento; passava o dia a distribuir ordens e a tomar grogs, sem largar o charuto da boca. O comendador, de vez em quando, aparecia por lá, para dar um vista d’olhos ou um sorriso de aprovação. — Os rapazes são o diabo! dizia ele depois em casa à mulher. Olhe que revolucionaram a chácara: bandeiras, figuras, estrelas, o diabo! E o fato é que está bonito! Logo na entrada puseram um caboclo abraçando a figura de Portugal; dá na vista! Foi uma idéia feliz! Não! tanto um como o outro têm bastante mérito. — Como não?! disse Genoveva com um ar sério e estúpido, persuadida que o marido, naquela última frase, se referia a Portugal e ao Brasil. Quando só faltava uma semana para o grande dia, a mulher do comendador, e o seu futuro genro, mudaram-se para a chácara com o fim de aprontarem as mesas e os aposentos dos noivos. Ficariam estes em um pavilhão cor-de-rosa, que estava uma tetéia. 79
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Ambrosina; o outro protestou, mas afinal teve de ceder, porque o enteado não<br />
desistia uma polegada do seu intento.<br />
— Repara que é uma tremenda loucura o que tencionas fazer, Gabriel!<br />
Lembra-te de que, um vez casada Ambrosina, nada mais tens que esperar dela!<br />
— Deixa-me! respondeu insolitamente o moço. Faze tu se quiseres a tal<br />
viagem; eu, haja o que houver, irei ao casamento!<br />
— E prometes partir comigo logo ao depois?...<br />
— Prometo.<br />
— Palavra de honra?<br />
— Palavra de honra!<br />
— Bem, nesse caso eu te acompanharei à casa do comendador.<br />
A festa foi extraordinária. A casa destinada aos noivos era uma bela<br />
chácara, que se prestava admiravelmente aos caprichos do gosto e às fantasias da<br />
bolsa. Leonardo, sofrivelmente rico, não olhou despesas; o comendador, por outro<br />
lado, procurou dar o maior brilho ao casamento da filha.<br />
E tudo saiu muito à medida dos seus desejos. Foi enorme a concorrência.<br />
A chácara apresentava um aspecto deslumbrante com a sua caprichosa<br />
iluminação; repuxos, cascatas, alpendres, caramanchões artificiais, estátuas<br />
simbólicas, tudo estava cheio de luz ou coberto de flores.<br />
O Melo Rosa não descansara um mês inteiro. Fora ele o encarregado de<br />
dirigir os preparativos do festejo. Durante esse tempo vivia preocupado<br />
exclusivamente com aquele trabalho. Controlava operários, copeiros, encomendava<br />
doces, tinha idéias, lembrava esquisitices de grande efeito, desenhava planos e<br />
sonhava maravilhas originais.<br />
O Reguinho ajudava-o muito e era quem saía a fazer compras, a procurar<br />
cortinas, laçarias, estatuetas, cantoneiras e mais petrechos de ornamentação.<br />
Foi um mês de pândega na chácara, enquanto a preparavam para o<br />
noivado. Melo Rosa conhecia vários boêmios, que entendiam de pintura e viviam por<br />
aí a trocar as pernas; carregou com eles para lá, deu-lhes de comer e beber, e os<br />
homens puxaram a valer pelas tintas e pelos pincéis.<br />
O Melo estava no seu elemento; passava o dia a distribuir ordens e a tomar<br />
grogs, sem largar o charuto da boca.<br />
O comendador, de vez em quando, aparecia por lá, para dar um vista<br />
d’olhos ou um sorriso de aprovação.<br />
— Os rapazes são o diabo! dizia ele depois em casa à mulher. Olhe que<br />
revolucionaram a chácara: bandeiras, figuras, estrelas, o diabo! E o fato é que está<br />
bonito! Logo na entrada puseram um caboclo abraçando a figura de Portugal; dá na<br />
vista! Foi uma idéia feliz! Não! tanto um como o outro têm bastante mérito.<br />
— Como não?! disse Genoveva com um ar sério e estúpido, persuadida que<br />
o marido, naquela última frase, se referia a Portugal e ao Brasil.<br />
Quando só faltava uma semana para o grande dia, a mulher do comendador,<br />
e o seu futuro genro, mudaram-se para a chácara com o fim de aprontarem as<br />
mesas e os aposentos dos noivos. Ficariam estes em um pavilhão cor-de-rosa, que<br />
estava uma tetéia.<br />
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