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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— ... Que perdeste a cabeça defronte de uns olhos grandes, de uma boca<br />

engraçada e de uns cabelos bonitos; que te deixaste enfeitiçar pela garridice de uma<br />

rapariga viva que anda à procura de noivo rico, e supões afinal que tudo isso tem<br />

alguma importância!... Mas eu te afianço que perderás a cabeça do mesmo modo<br />

defronte de outros quaisquer olhos não menos feios, e que em breve, se te afastares<br />

de Ambrosina, te esquecerás dela para sempre.<br />

— Duvido!<br />

— Proponho-te uma cousa: metamo-nos num carro fechado, e vamos, antes<br />

de te apresentares no baile, espiar cá de fora os passos de tua apaixonada. Talvez<br />

colhamos disso alguns esclarecimentos.<br />

— Está dito!<br />

E às onze horas achavam-se os dois em caminho para a casa do<br />

comendador.<br />

O sarau principiara às dez. Havia grande concorrência e muito luxo. Como<br />

fazia calor, dançavam somente nos sabes térreos do palacete, ao lado do jardim,<br />

com as janelas abertas, o que auxiliava à curiosidade dos dois espiões.<br />

Ambrosina sobressaía dentre a multidão de pares como verdadeira rainha<br />

da festa. Irrepreensível de elegância e dispendiosa simplicidade, trajava um vestido<br />

inteiriço de cassa branca, cujas rendas e bordados de alto gosto pareciam beber a<br />

fria doçura das pérolas em que ela trazia agrilhoados cabelos e garganta. A justeza<br />

da roupa dizia lucidamente a flexibilidade das suas primorosas formas, fazendo<br />

destacar o contorno dos quadris, a volta das espáduas e a delineação rafaélica dos<br />

seios.<br />

Nunca estivera tão encantadora. Gabriel não lhe tirava os olhos de cima,<br />

enquanto Gaspar bocejava ao fundo do coupé<br />

Ambrosina vinha de vez em quando à janela, e olhava para a rua com a<br />

impaciência de quem espera alguém que se demora.<br />

— Conta comigo! dizia Gabriel, apertando as mãos uma contra a outra.<br />

Mas, pouco depois parou à porta do comendador um carro de gosto distinto,<br />

puxado por bons cavalos, e em seguida apeou-se um cavalheiro alto, um pouco<br />

magro, elegante, barba parisiense, lunetas escuras, cabelos muito rentes.<br />

Ambrosina, ao reconhecer o carro, estremecera.<br />

O recém-chegado produziu sensação ao entrar no baile.<br />

O comendador foi recebê-lo com vivo interesse, e apresentou-o logo a vários<br />

grupos. Percebia-se que o novo conviva era estranho para a maior parte das<br />

pessoas que ali estavam.<br />

Ambrosina não voltou mais à janela.<br />

— Era por aquele maldito sujeito que ela esperava! considerou o pobre<br />

Gabriel, cheio de agonia.<br />

O novo personagem de resto, dera o braço à filha do comendador, e<br />

percorria as salas. Ambrosina mostrava-se radiante de satisfação.<br />

Dançaram depois uma valsa, acabada a qual, foram ausentar-se ao terraço,<br />

conversando.<br />

Gabriel não podia do carro ouvir o que diziam, mas pelos gestos parecia que<br />

os dois conversavam animadamente.<br />

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