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— As dívidas do coronel Pinto Leite? Oh! mas isso foi um escândalo; nem há<br />
no Rio quem o não saiba. Aqui em casa não se fala noutra cousa! Porém, a que<br />
propósito vem tudo isso? o que tem o senhor com esse negócio?...<br />
— Muito mais do que se persuade: e, uma vez que o fato já anda pela<br />
imprensa, posso dizer-lhe com franqueza que sou eu a tal pessoa que pagou ao<br />
senhor seu pai as dívidas do coronel.<br />
— O senhor?!... interrogou Ambrosina com a mais completa surpresa. E<br />
atravessou Gabriel com um olhar penetrante que nem uma sonda. "Ele!" dizia ela<br />
consigo. E procurava descobrir-lhe alguma cousa, algum indício, por onde<br />
acreditasse nos seus consideráveis bens de fortuna.<br />
— Sim, minha senhora; não desejava entrar nestas explicações, mas...<br />
Então, o senhor é muito rico?...<br />
— Um pouco, disse Gabriel, abaixando os olhos. Quanto possui?...<br />
— Diz Gaspar que uns mil contos de réis...<br />
— Mil contos!... repetiu Ambrosina, e transformou logo a fisionomia com um<br />
sorriso, que ela não tinha até aí dispensado a Gabriel.<br />
Este não deu por ele, e balbuciou:<br />
— Sou rico por acaso, sem a menor glória... herdei o que possuo de minha<br />
mãe, que já por sua vez herdara de meu pai...<br />
— Mas, nada disso explica o que há de comum entre o senhor e o coronel, e<br />
o que o levou a pagar as dívidas de um velho idiota...<br />
— Perdão, minha senhora, tomo a liberdade de preveni-la de que em minha<br />
presença não consinto ofenderem o coronel. Ele é pai de meu padrasto; é por bem<br />
dizer, meu avô; sem contar que lhe devo mil obrigações herdadas de minha mãe.<br />
Foi o coronel quem a esta recolheu da miséria, e quem a educou...<br />
— O senhor, por conseguinte, pagou uma dívida de gratidão?...<br />
Não paguei coisa alguma, minha senhora; os serviços que devo ao coronel<br />
não se podem pagar, são inestimáveis...<br />
— O Médico Misterioso é então viúvo de sua mãe...<br />
— Sim minha senhora; e, nem só é meu padrasto, como também é o meu<br />
único amigo, o meu confidente, o meu guia, o meu mestre!<br />
— Que entusiasmo! E ele sabe do nosso primeiro encontro?...<br />
— Perfeitamente. Contei-lhe tudo na mesma noite, mas sem declarar que se<br />
tratava da filha do comendador Moscoso, porque ignorava semelhante<br />
circunstância...<br />
— E o que disse ele?<br />
— Ligou pouca importância às minhas palavras, e afiançou-me que tudo<br />
passaria dentro de uma semana.<br />
-— E passou?<br />
— Não. Cresceu!<br />
— Mesmo depois de saber quem é meu pai?...<br />
— Sim, minha senhora; mesmo depois disso...<br />
— Entretanto não seria mau esperar até ao fim da semana...<br />
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