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www.nead.unama.br<br />
realçar as graças e emprestar encanto às que o não possuem. Toda a mulher feia,<br />
que souber preparar-se bem, será bela no palco; todo o homem vulgar, que souber<br />
repetir de orelha certos conceitos alheios e guardar silêncio quando for preciso, será<br />
nas salas um homem elegante e do bom-tom. Para aquelas, é preciso pintar os<br />
olhos, fazer um sinal na face, dar tinta aos lábios, arranjar os cabelos; para estes, é<br />
necessário um título qualquer, algum dinheiro, saber vestir-se à moda, conhecer<br />
certos prazeres, falar de óperas e cantores, mulheres e cavalos. E aí tem o senhor<br />
como se ama uma mulher bonita ou um homem de salão; ambos com os seus<br />
competentes diplomas — uma das platéias, e outro das salas. Entretanto, se o<br />
senhor desejar uma mulher verdadeiramente bonita, bonita sem artifícios, sem<br />
alvaiade, sem carmim, sem cabeleira, não a irá buscar certamente ao teatro; do<br />
mesmo modo, se o senhor quiser um homem que sirva de marido, não o deve<br />
procurar nos bailes, porque ele já não existe. Tanto aquele que trouxer para o seu<br />
lar uma étoile das rampas do teatro, como aquela que levar para casa um leão<br />
caçado ao som de valsas, sofrerá tremenda decepção.<br />
— V. Exa. então não aceitaria para esposo um herói da moda?...<br />
— Está claro que não. Pois eu queria lá marido para os outros?... Queria lá<br />
um marido que passasse algumas horas no lar apenas por obrigação doméstica, e<br />
viesse impressionado com a toilette da viscondessa tal, como o perfume da<br />
baronesa tal e tal, e com os amores escandalosos de todas as mulheres? Para meu<br />
marido desejaria eu um homem tão bom, que me não desse ocasião de desejar<br />
outro melhor; mas não o procuro, nem faço o menor empenho em o encontrar.<br />
E levantando-se, observou:<br />
— Olhe! está terminada a quadrilha e o meu par desta valsa não tarda a vir<br />
buscar-me.<br />
— Mas V. Exa. não respondeu à minha principal pergunta...<br />
— Se o virei a amar?... é muito natural que não.<br />
E separaram-se.<br />
Gabriel só falou depois com Ambrosina em casa do pai dela, na situação em<br />
que o deixamos no capítulo anterior.<br />
Vejamos agora o que disseram os dois neste novo encontro:<br />
— Mas, por que faz o Sr. essa cara tão esquisita, ao saber de quem sou<br />
filha?. . . perguntou a linda moça, oferecendo uma cadeira a Gabriel.<br />
— O comendador demora-se! averiguou este, assentando-se.<br />
— Depende de nós. Meu pai recolhe-se sempre depois do jantar e não<br />
aparece antes das nove horas da noite, a não ser que alguém o procure. Podemos<br />
estar à vontade. Nem sabem até que o senhor cá está. Conversemos sem<br />
constrangimento...<br />
— Nesse caso, vou falar-lhe com toda a franqueza. Diga-me uma coisa: A<br />
senhora, quero dizer, V. Exa....<br />
— Não! trate-me mesmo por Senhora.<br />
— Obrigado. A senhora anda a par dos negócios de seu pai?...<br />
— Valha-me Deus! eu sei cá dos negócios de meu pai! Que posso saber eu<br />
disso?.<br />
— Não sabe então que ultimamente ele comprou as dívidas.<br />
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