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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Não sei porquê! Eu não tenho mais experiência que qualquer outra<br />

senhorita nas minhas condições; apenas sou menos hipócrita, e não quero impingir<br />

minha mão ao primeiro que apareça...<br />

— Mas, uma vez resolvida a casar, qual será o noivo que lhe convém? quais<br />

serão nele as qualidades que a poderão conquistar?<br />

— Sei cá! mas, se tivesse rigorosamente de escolher marido, escolheria um<br />

homem que me parecesse bem vulgar.<br />

— O que, minha senhora? V. Exa. não preza a distinção?...<br />

— Não, decerto. A distinção será muito boa para o homem que a possua,<br />

nunca será para a mulher que com ele se case. A distinção! Mas não vê o senhor<br />

que, quanto maior for a superioridade do marido, tanto maior será também a<br />

inferioridade da mulher!... Com um homem vulgar, sucede precisamente o contrário:<br />

ela terá o primeiro lugar, e não precisará pôr-se nas pontinhas dos pés para falar<br />

com ele, o que é incômodo.<br />

— Mas terá de abaixar-se...<br />

— Qual! ele que trepe! é sempre o mais baixo que procura os meios de<br />

subir... Digo-lhe e repito: A ter de casar, prefiro um homem vulgar, trabalhador e<br />

honesto.<br />

— Creio que estou no caso..<br />

— Não sei se totalmente. Trabalhador e honesto, só mais tarde o<br />

saberemos, porque o senhor entra agora na vida; quanto ao vulgar, isto está! — a<br />

sua observação acaba de prová-lo...<br />

— Sou tão vulgar quanto V. Exa. é severa...<br />

— Sincera, é que deve dizer...<br />

— Contudo, não me pareceu sincera no que disse a respeito do casamento..<br />

— Pois não! O homem, meu caro senhor, apresenta-se-nos sempre por um<br />

prisma falso; é a capa do charuto de que há pouco lhe falei... Por fora, muito liso,<br />

muito cheiroso e com um ar magnífico. Quem dirá pelas aparências que tão sedutor<br />

charuto não é bom?... Entretanto, se o senhor o acender e insistir em fumá-lo, farlhe-á<br />

ele uma ferida na língua. Desdobre-o! há de achar dentro, em vez de tabaco,<br />

papelão! Imagine que eu encontrasse na sociedade um homem de bom-tom, um<br />

elegante com a resposta pronta, a casaca irrepreensível e a luva fresca, e ligasse o<br />

meu destino ao dele; mas que, na ocasião íntima de desdobrar esse belo espírito lhe<br />

descobrisse o tal miolo de papelão...<br />

— Oh!<br />

— É justamente o que eu diria: "Oh!"<br />

E Ambrosina comprimiu os lábios com a graça de um beijo.<br />

— O que, todavia, não evitava, continuou ela rindo, que tivesse eu aquele<br />

trambolho amarrado à minha vida como uma grilheta de condenado. Escolhendo, ao<br />

contrário, um homem sem qualidades brilhantes, não teria eu de sofrer decepção de<br />

nenhuma espécie, e é possível até que chegasse, depois do casamento, a descobrir<br />

em meu marido algum dote, verdadeiro e sólido, para o qual a sociedade não se<br />

desse ao trabalho de reparar...<br />

Gabriel soltou uma risada, e Ambrosina prosseguiu:<br />

— Creio, meu caro doutor, que a sociedade é para os homens medíocres o<br />

que o palco é para as atrizes de segunda ordem — simplesmente um meio de lhes<br />

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