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— Não sei porquê! Eu não tenho mais experiência que qualquer outra<br />
senhorita nas minhas condições; apenas sou menos hipócrita, e não quero impingir<br />
minha mão ao primeiro que apareça...<br />
— Mas, uma vez resolvida a casar, qual será o noivo que lhe convém? quais<br />
serão nele as qualidades que a poderão conquistar?<br />
— Sei cá! mas, se tivesse rigorosamente de escolher marido, escolheria um<br />
homem que me parecesse bem vulgar.<br />
— O que, minha senhora? V. Exa. não preza a distinção?...<br />
— Não, decerto. A distinção será muito boa para o homem que a possua,<br />
nunca será para a mulher que com ele se case. A distinção! Mas não vê o senhor<br />
que, quanto maior for a superioridade do marido, tanto maior será também a<br />
inferioridade da mulher!... Com um homem vulgar, sucede precisamente o contrário:<br />
ela terá o primeiro lugar, e não precisará pôr-se nas pontinhas dos pés para falar<br />
com ele, o que é incômodo.<br />
— Mas terá de abaixar-se...<br />
— Qual! ele que trepe! é sempre o mais baixo que procura os meios de<br />
subir... Digo-lhe e repito: A ter de casar, prefiro um homem vulgar, trabalhador e<br />
honesto.<br />
— Creio que estou no caso..<br />
— Não sei se totalmente. Trabalhador e honesto, só mais tarde o<br />
saberemos, porque o senhor entra agora na vida; quanto ao vulgar, isto está! — a<br />
sua observação acaba de prová-lo...<br />
— Sou tão vulgar quanto V. Exa. é severa...<br />
— Sincera, é que deve dizer...<br />
— Contudo, não me pareceu sincera no que disse a respeito do casamento..<br />
— Pois não! O homem, meu caro senhor, apresenta-se-nos sempre por um<br />
prisma falso; é a capa do charuto de que há pouco lhe falei... Por fora, muito liso,<br />
muito cheiroso e com um ar magnífico. Quem dirá pelas aparências que tão sedutor<br />
charuto não é bom?... Entretanto, se o senhor o acender e insistir em fumá-lo, farlhe-á<br />
ele uma ferida na língua. Desdobre-o! há de achar dentro, em vez de tabaco,<br />
papelão! Imagine que eu encontrasse na sociedade um homem de bom-tom, um<br />
elegante com a resposta pronta, a casaca irrepreensível e a luva fresca, e ligasse o<br />
meu destino ao dele; mas que, na ocasião íntima de desdobrar esse belo espírito lhe<br />
descobrisse o tal miolo de papelão...<br />
— Oh!<br />
— É justamente o que eu diria: "Oh!"<br />
E Ambrosina comprimiu os lábios com a graça de um beijo.<br />
— O que, todavia, não evitava, continuou ela rindo, que tivesse eu aquele<br />
trambolho amarrado à minha vida como uma grilheta de condenado. Escolhendo, ao<br />
contrário, um homem sem qualidades brilhantes, não teria eu de sofrer decepção de<br />
nenhuma espécie, e é possível até que chegasse, depois do casamento, a descobrir<br />
em meu marido algum dote, verdadeiro e sólido, para o qual a sociedade não se<br />
desse ao trabalho de reparar...<br />
Gabriel soltou uma risada, e Ambrosina prosseguiu:<br />
— Creio, meu caro doutor, que a sociedade é para os homens medíocres o<br />
que o palco é para as atrizes de segunda ordem — simplesmente um meio de lhes<br />
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