A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br — E o velho caiu de braços na cama, a exclamar numa doida vertigem: — Fechem as portas! Não o deixem sair! acudam-me! — Está o que você veio fazer! disse Gabriel a Alfredo. — Está danado! respondeu este com a voz mole e com um sobressalto de medo. Tu pensas, velho rabugento, que eu voltaria cá, se não fosse ter pena de ti. Vim para dizer quem é o autor das mofinas, mas vocês não querem obsequiar... não digo! E voltando-se para Gabriel: — Menino! vai para o piano, que eu gosto de música! Mas vendo que ninguém o atendia, resmungou zangado, ganhando a porta: — Querem saber que mais? Vão vocês todos para o diabo que os carregue! E deitou a correr para a rua. Segurem-no! rugiu da cama o coronel. Segurem-no! E tentando erguer-se, desabou nos braços do filho. Gabriel precipitou-se no encalço de Marmelada. Só conseguiu alcançá-lo já no fim da esquina. Espere com um milhão de raios! disse o rapaz, segurando-lhe o braço. — Largue-me! exclamou o outro. Largue-me! ou vou-lhe ao frontispício! — Cale-se! Aqui tem dinheiro. Tome! pode beber à vontade, mas diga primeiro quem é o autor das mofinas! Alfredo guardou o dinheiro e segredou: É o Melo Rosa e o comendador Moscoso. O Moscoso é aquela peste que se queria casar com a minha defunta mulher... Ai, minha rica Aninha! E desatou a soluçar. — Era uma santa, menino! Uma santa! — Bem! console-se, porque agora as cousas lhe vão correr melhor; eu preciso falar-lhe. Venha daí! — O que é?! — É negócio muito sério! Venha comigo! — É negócio! Pronto! Ah! Eu cá sou como Reguinho!... Queremos dinheiro, sebo! — Se você quiser sujeitar-se, não lhe faltará o necessário e também algum dinheiro... Ande daí! — Queremos dinheiro, sebo! — Pois terá dinheiro! Espere um instante por mim. E Gabriel subiu novamente à casa do coronel; disse a Gaspar de quem eram as mofinas, pediu-lhe que ficasse durante a sua ausência fazendo companhia ao velho, e depois foi ter de novo com o Bessa. — Vamos cá... disse este. Alfredo acompanhou-o. 62

www.nead.unama.br — Você almoçou hoje?... perguntou-lhe Gabriel. — Não me lembra. — Bem! mas de ora em diante é preciso mudar de vida! Cá está um hotel. Entramos! O Marmelada hesitou. — Entre, homem! E Gabriel procurou o dono da casa para encarregá-lo de Alfredo. — É um amigo meu, disse-lhe, que por desgostos, caiu neste estado... O senhor tratará dele o melhor possível. Obrigue-o a recolher-se, faça-o comer alguma cousa, lavar-se, vestir-se de roupa nova; enfim, quero que ele não saia daqui, sem ter voltado ao seu primitivo estado de asseio e decência... — Mas, Dr., é que... — Não me diga que não! Aqui lhe deixo cem mil-réis para as primeiras despesas. Não tenho mais dinheiro comigo, porém, amanhã voltarei e desejo encontrar o seu hóspede em melhores condições... O principal é não deixá-lo sair sem estar restaurado. O hoteleiro afinal aceitou, e fez recolher Alfredo. Este não queria deixar-se prender. — Querem roubar-me! Berrava ele, debatendo-se. Querem roubar-me, porque tenho dinheiro comigo! É meu! deram-me! Há testemunhas!... Gabriel recomendou ainda uma vez o seu protegido e retirou-se, gozando a caridade que acabava de praticar. Ao chegar à casa, disse-lhe a criada que Gaspar havia saído. — E deixou o velho sozinho... Que imprudência! E foi fazer companhia ao coronel. Às dez da noite voltava Gaspar. Vinha radiante. — Meu pai, exclamou ele logo ao entrar; alegre o seu coração! Está descoberto o autor das mofinas! Alfredo dizia a verdade. Soube agora que chegara este a tal resultado, fingindo que dormia em um banco do Passeio Público, perto do qual conversavam o comendador Moscoso e o Melo Rosa. Procurei este último, que eu já conhecia, e consegui dele a confissão de tudo. O verdadeiro autor das mofinas é o comendador Moscoso! — Ah! agora compreendo, gritou o coronel, depois de um esforço de memória. O comendador Moscoso... Já sei! é um sujeito que desejou casar com Anita! Eu não consenti... Infame! E porque lhe neguei... Ah! mas caro o pagarás, miserável! — Nada de precipitações, observou Gaspar. É necessário fazer tudo com calma para obtermos bom resultado. Eu me encarrego do comendador! O senhor há de recebê-lo aqui neste quarto, sem se incomodar. Ele há de vir cá, há de ajoelhar- 63

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— Você almoçou hoje?... perguntou-lhe Gabriel.<br />

— Não me lembra.<br />

— Bem! mas de ora em diante é preciso mudar de vida! Cá está um hotel.<br />

Entramos!<br />

O Marmelada hesitou.<br />

— Entre, homem!<br />

E Gabriel procurou o dono da casa para encarregá-lo de Alfredo.<br />

— É um amigo meu, disse-lhe, que por desgostos, caiu neste estado... O<br />

senhor tratará dele o melhor possível. Obrigue-o a recolher-se, faça-o comer alguma<br />

cousa, lavar-se, vestir-se de roupa nova; enfim, quero que ele não saia daqui, sem<br />

ter voltado ao seu primitivo estado de asseio e decência...<br />

— Mas, Dr., é que...<br />

— Não me diga que não! Aqui lhe deixo cem mil-réis para as primeiras<br />

despesas. Não tenho mais dinheiro comigo, porém, amanhã voltarei e desejo<br />

encontrar o seu hóspede em melhores condições... O principal é não deixá-lo sair<br />

sem estar restaurado.<br />

O hoteleiro afinal aceitou, e fez recolher Alfredo.<br />

Este não queria deixar-se prender.<br />

— Querem roubar-me! Berrava ele, debatendo-se. Querem roubar-me,<br />

porque tenho dinheiro comigo! É meu! deram-me! Há testemunhas!...<br />

Gabriel recomendou ainda uma vez o seu protegido e retirou-se, gozando a<br />

caridade que acabava de praticar.<br />

Ao chegar à casa, disse-lhe a criada que Gaspar havia saído.<br />

— E deixou o velho sozinho... Que imprudência!<br />

E foi fazer companhia ao coronel.<br />

Às dez da noite voltava Gaspar. Vinha radiante.<br />

— Meu pai, exclamou ele logo ao entrar; alegre o seu coração! Está<br />

descoberto o autor das mofinas! Alfredo dizia a verdade. Soube agora que chegara<br />

este a tal resultado, fingindo que dormia em um banco do Passeio Público, perto do<br />

qual conversavam o comendador Moscoso e o Melo Rosa. Procurei este último, que<br />

eu já conhecia, e consegui dele a confissão de tudo. O verdadeiro autor das mofinas<br />

é o comendador Moscoso!<br />

— Ah! agora compreendo, gritou o coronel, depois de um esforço de<br />

memória. O comendador Moscoso... Já sei! é um sujeito que desejou casar com<br />

Anita! Eu não consenti... Infame! E porque lhe neguei... Ah! mas caro o pagarás,<br />

miserável!<br />

— Nada de precipitações, observou Gaspar. É necessário fazer tudo com<br />

calma para obtermos bom resultado. Eu me encarrego do comendador! O senhor há<br />

de recebê-lo aqui neste quarto, sem se incomodar. Ele há de vir cá, há de ajoelhar-<br />

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