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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

A cousa não seria difícil: o comendador tinha boas amizades, alguns<br />

figurões tomavam chá em casa dele. O rancoroso deu a entender que desejava<br />

empregar no lugar do viúvo de Ana um seu afilhado, e o genro do coronel recebeu<br />

em Cantagalo a notícia de que, a pretexto de abandono de emprego, lhe haviam<br />

lavrado a demissão.<br />

O infeliz esteve a perder a cabeça.<br />

E todas estas novas mal-aventuras afligiam consideravelmente o pai de<br />

Gaspar. Era justamente por ocasião delas, que as tais mofinas do Jornal do<br />

Comércio recrudesciam de mordacidade.<br />

Aquela perseguição covarde e mesquinha, pingando-lhe todos os meses<br />

duas gotas de fel no coração, acabara no fim de alguns anos por enchê-lo de um<br />

grande desgosto, que lhe estragava, de todo, o resto da existência.<br />

O comendador torcia-se de gozo com os efeitos de semelhante vingança.<br />

O pai de Gaspar ultimamente confessava já a sua amargura quando um lia<br />

uma das tais; mofinas. Ele e o filho empregavam todos os esforços para descobrir<br />

quem seria o infame detrator, nada porém, conseguiam: O Jornal do Comércio<br />

guardava segredo, e o testa de ferro, o Romão José de Lima, estava pronto a surgir<br />

desde que o injuriado chamasse o jornal à responsabilidade. Ninguém sabia explicar<br />

aquilo, mas afinal já liam todos as chacotas do comendador, e muitos parvos já<br />

gostavam delas e já as esperavam com a risadinha pronta.<br />

Quando o viúvo de Ana foi demitido, o Jornal do Comércio publicou as<br />

seguintes palavras:<br />

"Não podemos deixar de dar ao nosso velho amigo, o coronel Pinto<br />

Marmelo, os mais bombásticos parabéns pela prova de consideração que o governo<br />

acaba de manifestar-lhe, lavrando a demissão de seu condigno genro — o<br />

Marmelada. Foi uma medida justa e bem aceita!<br />

"Consta que o Marmelada de ora em diante, à falta de outro meio de vida,<br />

passará a tocar realejo na rua, e não sabemos se o sogro, que também anda por<br />

baixo, o acompanhará, fardado ou vestido de mono.<br />

Deve ter graça! Cá estamos nós para apreciar.<br />

A Sentinela."<br />

E havia quem admirasse a constância do autor de tais sensaborias, sem<br />

ninguém prever o formidável escândalo que com elas se armava, como daqui a<br />

pouco terá o leitor ocasião de verificar.<br />

CAPÍTULO XII<br />

COMO E ONDE CRESCEU AMBROSINA<br />

O viúvo de Ana ficou desde então conhecido pela alcunha de "Marmelada".<br />

Gabriel, feitos alguns preparatórios na Corte seguiu para S. Paulo em<br />

companhia de Gaspar, que o destinava a matricular-se na escola de Direito.<br />

Enquanto para esse se arrastava a existência desse modo, corria a vida<br />

petulante e fagueira para a gente do comendador.<br />

Bem diferentes eram os dois destinos!<br />

O comendador Moscoso, segundo os cálculos que o leitor se dará ao<br />

trabalho de fazer, era casado havia já quinze anos, pois há quatorze dera-lhe a sua<br />

Genoveva uma filha, a que batizaram os dois com o doce nome de Ambrosina.<br />

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