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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Desce, vai à rua e dize ao homem que lá está à minha espera, que já não<br />

preciso dele. Dá-lhe dinheiro e ordena-lhe que nunca mais me apareça.<br />

Gaspar desceu a escada a três e três degraus.<br />

Ao voltar ao quarto de Violante, soltou um grito; a bela mulher estava<br />

estendida no tapete, aos pés do leito, e seu colo nadava em sangue.<br />

Apunhalara-se.<br />

— Perdoa-me! disse ela, ofegante, ao ver entrar Gaspar. Eu sou uma<br />

desgraçada! Reconheço que é mau tudo o que cometi, mas não estava em mim<br />

poder evitá-lo... Não sei odiar de outro modo. Meu ódio só se pode esvair em<br />

sangue... Estou agora mais aliviada... parece-me ver correr do próprio peito a cólera<br />

vermelha e ardente, que dentro dele se tinha acumulado... Ai! quanto me desafronta<br />

o sangue que derramo! Sinto-me melhor... mais propensa à piedade... Vou<br />

compreendendo toda a razão das tuas palavras, meu bom companheiro... Cerraramse-me<br />

os olhos, desfaleço, como se adormecesse no elevamento de um amor<br />

ideal... Já vejo assomar além, por entre as névoas que me ensombram, o vulto<br />

singelo e casto de teu pai... Ele sorri para mim... envolve-me toda no seu olhar<br />

compassivo e doce... Não me despertes...<br />

E a oriental deixou pender a cabeça, e desfaleceu. Gaspar correu aos<br />

aparelhos cirúrgicos e apressou-se a tomar-lhe a ferida. Mas a mão tremia-lhe, o<br />

coração saltava-lhe dentro com força, e as lágrimas corriam-lhe dos olhos em<br />

borbotão. Contudo, o médico operava, e Violante vivia.<br />

No dia seguinte, ela abriu os olhos e recuperou a fala.<br />

Suas primeiras palavras foram para pedir água. Gaspar negou-lha. A infeliz<br />

tinha a voz muito fraca, palidez mortal, e uma profunda melancolia espalhada por<br />

todo o semblante.<br />

Gaspar estava ajoelhado à cabeceira da cama em que a depusera. O outro<br />

médico já se tinha retirado.<br />

Os dois amantes ficaram longo tempo a se olharem com a mesma tristeza.<br />

Ela passou-lhe depois a mão pelos cabelos e chamou a cabeça dele para seu colo.<br />

Gaspar não podia articular uma palavra; as lágrimas corriam-lhe apressadas e<br />

quentes pela barba.<br />

— Como tu és bom, meu amigo! como tu merecias ser feliz...<br />

— Não estejas a falar, que isto te faz mal... observou Gaspar, no fim de<br />

alguns instantes. Vê se sossegas. Eu fico aqui, ao pé de ti...<br />

— Sim, sim; mas preciso muito que me faças um grande favor; manda<br />

chamar um padre. Eu quero casar-me contigo antes de morrer.<br />

— Tu não morrerás!...<br />

— Sim, mas manda chamá-lo...<br />

O padre veio e cumpriu-se a cerimônia. Depois Violante exigiu que se<br />

lavrasse um documento assinado por ela, declarando o modo pelo qual morria.<br />

Ficou tudo feito. Era ela a que parecia menos aflita.<br />

— Bem, disse quando viu que já não precisava dos estranhos, deixe-me<br />

agora com meu marido...<br />

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