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Em seguida senti um vago desejo de dormir. Ele serviu o café e o licor.<br />
E continuamos a conversar.<br />
As recordações do tempo do colégio vinham a todo o instante.<br />
"Isto sempre teve gênio!" dizia ele, ameigando-me o queixo. Chamava-me<br />
criaturinha má, sem coração; ameaçava-me com vingançazinhas, que se realizariam<br />
quando fôssemos casados. Tinha ditos maliciosos, palavras de sentido dúbio e<br />
olhares cheios de paixão. Eu estendia-me cada vez mais no banco, amolecida por<br />
um entorpecimento agradável; as pálpebras fechavam-se-me. Sentia vontade de ser<br />
menos severa com aquele pobre companheiro de infância; tanto que me não<br />
sobressaltei quando senti a sua mão empolgar-me a cintura.<br />
"Como eu te amo! murmurou ele, com a boca muito perto do meu rosto. O<br />
seu hálito abrasava-me as faces.<br />
"Não faça isto!", pedi, repelindo-o frouxamente.<br />
Mas ele passou-me a outra mão na cintura e puxou-me para si.<br />
Fiz ainda alguma resistência. Sentia-me, porém tão mole, e além disso<br />
sabia-me tanto ser abraçada naquela ocasião, que me deixei levar e caí sobre ele,<br />
com a cabeça desfalecida no seu ombro.<br />
Paulo segurou-me o rosto e estonteou-me de beijos. Eram ardentes, vivos,<br />
repetidos, como os tiros de uma metralhadora.<br />
E Violante calou-se, respirando forte, enquanto Gaspar, de olhos muito<br />
abertos, lhe acompanhava todos os movimentos.<br />
— Depois desse fatal passeio, continuou ela ao fim de uma pausa, a<br />
situação mudou completamente. Paulo se tinha convertido em meu legítimo amante.<br />
Entretanto, escreviam-me daqui a respeito do inventário de meu marido, e eu<br />
respondia com evasivas às repetidas reclamações. Afinal, autorizada por Paulo,<br />
declarei abertamente que só voltaria a Montevidéu acompanhada por um cavalheiro<br />
com quem havia ajustado casamento.<br />
A viagem seria dai a um mês; Paulo disse-me então que só se casaria na<br />
América Meridional, na primeira república em que pisássemos, ou no Brasil, e que<br />
então, logo depois no dia seguinte até, poderíamos levantar o vôo definitivo para cá.<br />
Concordei, não sem estranhar semelhantes exigências. Dentro de alguns dias<br />
partimos da Europa, depois de haver eu escrito aos meus amigos e conhecidos,<br />
participando-lhes que em breve me casaria no Brasil. E ainda nisso houve da parte<br />
de meu noivo alguma cousa que me fez desconfiar: Paulo exigiu que eu não<br />
declarasse o seu nome nas minhas participações...<br />
— Oh! exclamou Gaspar, interessado vivamente pela história de Violante. E<br />
a senhora consentiu?<br />
— Que remédio! explicou ela, eu estava em situação falsa: qualquer<br />
resistência podia provocar um rompimento, com o qual só eu tinha a perder. Assim,<br />
pensei na dependência em que me havia colocado, e concordei de cabeça baixa...<br />
— Depois? perguntou Gaspar.<br />
— Depois, partimos para o Brasil e, na véspera do dia em que havíamos de<br />
casar, Paulo desapareceu.<br />
— Canalha!<br />
— Fiz minhas malas, enxuguei minhas lágrimas, traguei em silêncio a minha<br />
cólera, e cá estou há cinco meses, sequiosa por efetuar meus planos de vingança!<br />
— Ah! Tenciona tirar uma vingança de Paulo?...<br />
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