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A Condessa Vésper - Unama

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— Uma vez propus-me um passeio ao campo. Aceitei e fomos.<br />

www.nead.unama.br<br />

A manhã era esplêndida. Uma bela manhã cheia de luz e temperada por um<br />

calor comunicativo e doce. Às seis horas metemo-nos em um carrinho de vime, leve<br />

como uma cesta, rasteiro como um divã e cômodo como um leito.<br />

Paulo deu rédeas ao animal, e o carro nos conduziu para fora da cidade.<br />

CAPÍTULO VI<br />

PAULO MOSTELLA<br />

— Eu sentia um bom humor extraordinário, prosseguiu Violante: o ar puro e<br />

consolador da manhã, pulverizado no espaço em vapores cor-de-rosa, enchia-me<br />

toda como de uma grande alma nova, feita de cousas alegres e generosas. Tive<br />

vontade de rir e cantar.<br />

O sol principiava a destacar o contorno irregular das árvores e derramava-se<br />

transparente e suave. Sentia-me expansiva, alegre, tinha repentes de criança; e, não<br />

sei por que, Paulo nessa ocasião se me afigurou muito melhor do que das outras.<br />

Cheguei a achar-lhe graça e a desfazer-me em risadas com algumas pilhérias suas<br />

que fora dali me fariam bocejar.<br />

Em certa altura paramos. Ele ajudou-me a descer, prendeu o cavalo, abriu a<br />

minha sombrinha, e começamos a andar de braço dado por debaixo das árvores.<br />

Que delicioso passeio! O Senhor não pode imaginar quanto eu me senti<br />

feliz... Mais alguns passos, e tínhamos chegado a um caramanchão ou, melhor, a<br />

um alpendre de verdura misterioso, tépido, todo impregnado dos perfumes do<br />

campo e das sombras da folhagem. Ao lado uma cascata corria em sussurros, e as<br />

suas águas quebravam-se nas pedras, irradiando a fulguração do sol.<br />

Paulo deixou-me por um instante, para ir buscar o carro. E nesse momento<br />

de independência, quando senti que não era observada por ninguém, levantei-me,<br />

bati palmas e pus-me a dançar como uma doida; depois galguei aos saltos o lado da<br />

cascata e recebi no rosto o pó úmido das águas. Abaixei-me, colhi água na concha<br />

das mãos e bebi. Afinal assentei-me no chão, e abri a cantar.<br />

Paulo voltou com o carro e recolheu ao pavilhão o cesto do almoço.<br />

Estendeu a toalha sobre uma mesinha de pedra que havia, e pousou nesta uma<br />

máquina de café, duas garrafas de bordeaux, uma de champanha, uma botija de<br />

curaçau, uma empada, um assado, queijo, frutas e pão.<br />

Eu sentia apetite, e confesso que estava encantada com tudo aquilo. Era a<br />

primeira vez que me animava a fazer uma folia desse gênero — um almoço ao ar<br />

livre ao lado de um rapaz.<br />

E Paulo não me parecia o mesmo homem, descobria-lhe maneiras e<br />

qualidades, para as quais jamais atentara enquanto o vira somente nas frias atitudes<br />

circunspectas da vida, notava-lhe agora a distinta estroinice dos pândegos de boa<br />

família, criados e animados entre senhoras finas e orgulhosas; um certo pouco caso,<br />

fidalgo e elegante, pelas virtudes comuns e pelos vícios vulgares; um ar altivo e<br />

másculo de quem está habituado a gastar forte com os seus prazeres; uma linha<br />

moderna, libertina e gentil a um tempo, feita de extravagâncias de bom gosto, e um<br />

pouco de viagens, alguns conhecimentos de música, um nada de política, anedotas<br />

francesas, algum dinheiro, charutos caros, um monóculo, o uso de várias línguas,<br />

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