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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Pois bem, à meia-noite o espero aqui mesmo. Já me encontrará pronta<br />

para o acompanhar.<br />

— Nesse caso, até logo, disse ele.<br />

— Adeus, meu amigo.<br />

E Ambrosina estendeu a fronte, que Gustavo não beijou.<br />

À hora predileta, já ela com efeito, entocada num carro de praça, esperava<br />

pelo rapaz defronte da porta de casa. E dentro em pouco chegavam os dois à<br />

miserável residência da viúva do comendador Moscoso.<br />

Graças a Gustavo, a lavadeira tinha sido antecipadamente prevenida<br />

daquela misteriosa visita.<br />

Todo o cortiço ressonava, prostrado pela grossa labutação desse dia.<br />

Ambrosina, vestida de negro e embiocada em mantilha entrou na estalagem<br />

pelo braço do poeta.<br />

Ia pressurosa e confusa, mas não era a mãe, coitada desta! quem a<br />

preocupava nesse instante, era o enigmático rapazola que lhe dava o braço. Apesar<br />

de toda a sua diabólica perspicácia, não tinha ainda a presumida conseguido formar<br />

seguro juízo sobre que espécie de animal vinha a ser aquele estranho escrevinhador<br />

de novelas, que a tratava por cima do ombro e com um sorriso tão irritante quão<br />

pouco amáveis eram as suas palavras.<br />

Ah! que Gustavo lhe preocupava o espírito e a trazia intrigada desde aquele<br />

seu primeiro olhar à porta do Arnaud, disso já não havia dúvida. Ambrosina a<br />

princípio procurou, não obstante, explicar o fato por um simples fenômeno de<br />

antipatia, mas depois teve de abrir mão dessa hipótese, à vista do insólito abalo nela<br />

produzido pelo espinhoso bilhete do estouvado na noite dos seus maiores triunfos, e<br />

agora pela quase agradável impressão que lhe causara a generosa atitude do<br />

boêmio com respeito à pobre velha, de quem ela era filha e mal se lembrava.<br />

Sim senhor! dizia consigo a loureira; podia ele gabar-se de ter<br />

maravilhosamente comovido o belo e frio mármore de que era talhada a <strong>Condessa</strong><br />

<strong>Vésper</strong>!<br />

— Qual mármore! Os trinta anos de uma mulher, voluptuosa e materia1ista<br />

como aquela, jamais chegam desacompanhados de fundas modificações no seu<br />

temperamento. Ambrosina galgara à curvilínea idade em que a mulher perdida faz<br />

grande questão dos seus momentos de amor ex-ofício e, como para se desforrar<br />

dos intermináveis tédios do amor profissional, escolhe detidamente, gulosamente,<br />

contemplando, estudando em concentrado silêncio de conhecedor, o tenro e<br />

apetitoso eleito dos seus dispépticos sentidos, para afinal o saborear em remancho,<br />

reservada e grave, plenitude de uma delícia cevada e egoística. E Gustavo tinha<br />

então de vinte e quatro a vinte e cinco anos, fortes, sadios e bem aparelhados.<br />

Essa é que era a verdade. Não se vá porém supor que, por ter já trinta anos,<br />

estivesse Ambrosina menos bela; ao contrário, o que perdera em graça juvenil<br />

ganhara em femínea plástica atingindo a esse glorioso apogeu da carne, que cresce<br />

precede na sua órbita fatal ao primeiro pungir do declínio, mas que naquele brilhante<br />

e rápido fastígio atinge ao mais alto grau da perfeição da forma.<br />

Será preciso dizer que tão inesperada resistência por parte do mocetão,<br />

excitou, naqueles zodiacais e formosos trinta anos, a flama acesa pelo sensual<br />

capricho do momento? e que, ao terminar a visita, já se sentia a caprichosa<br />

perfeitamente resolvida a capturar o revesso boêmio, custasse o que custasse?<br />

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