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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

O noivo de Estela, embatucado e fulo de acanhamento, gaguejou algumas<br />

palavras de cortesia e entregou-lhe a carta de Genoveva.<br />

A <strong>Condessa</strong> o fez passar para a mesma antecâmara em que recebera o<br />

Médico Misterioso, ofereceu-lhe uma cadeira e foi sentar-se a um canto, no divã, a<br />

romper vagarosamente o sobrescrito da carta.<br />

Gustavo observava-a numa atitude cerimoniosa. Por mais esforços que<br />

fizesse, não conseguia pôr-se à vontade defronte daquela mulher deslumbrante, que<br />

o dominava com o seu ar de imperatriz romana. Sentia-se oprimido por uma<br />

irresistível e humilhante fascinação.<br />

<strong>Vésper</strong> estava com efeito bela. Os braços e a garganta surgiam-lhe de uma<br />

confusão de rendas claras, como de um floco de mitológicas espumas do oceano. A<br />

cabeça, rica de contorno, destacava-se no enrodilhado artístico dos cabelos. Os<br />

olhos, mesmo quando fechados, transluziam os sutis fulgores da volúpia, e a boca o<br />

cruel segredo das paixões calculadas, das febres previstas e dos grandes delírios<br />

oficias do amor.<br />

Ao terminar a leitura, ergueu-se altiva, e perguntou ao portador da carta se<br />

sabia quem a tinha escrito.<br />

— Um seu criado... disse timidamente o rapaz.<br />

— O senhor? Mas nesse caso, entre o senhor e minha mãe há velhas<br />

relações?...<br />

— Absolutamente, minha senhora. Eu mal a conheço!...<br />

— E ela confiou-lhe tudo o que vem escrito?!...<br />

— Sua mãe havia pedido a uma vizinha que lhe fizesse a carta; a vizinha<br />

não pôde servi-la e encarregou-me por sua vez de...<br />

— Ó senhores, com efeito! Mas então, minha mãe não teve o menor<br />

escrúpulo de envolver um estranho nos mistérios de minha vida?<br />

Gustavo sorriu.<br />

— Descanse, disse ele, erguendo-se; nunca terei ocasião de falar sobre<br />

semelhante cousa!...<br />

— Hein?! perguntou ela, virando rapidamente a cabeça.<br />

— Digo que não terei ocasião de falar no que me confiou a senhora sua<br />

mãe...<br />

— E o que quer dizer o senhor com isso?<br />

— Oh, minha senhora! quero dizer que não me meto com a vida alheia.<br />

E o rapaz acrescentou, depois de uma pausa, durante a qual Ambrosina<br />

parecia meditar:<br />

— O acaso conduziu-me ao lado de sua mísera mãe; ao vê-la fiquei<br />

comovido, ofereci-me, não só para escrever essa carta, como para a entregar<br />

pessoalmente e exigir a resposta. Se a senhora, porém, não estiver por isso, eu direi<br />

à pobre lavadeira que se console, e veremos por outro lado... Sempre há de<br />

aparecer algum hospital que a receba por... compaixão.<br />

— Mas, para que diabo me está o senhor a mortificar?... Minha mãe fala-me<br />

aqui a respeito da venda que fiz da casa do Engenho Novo: eu, porém, não cometi<br />

nenhuma ilegalidade com isso — a casa era minha! — nem podia eu adivinhar que<br />

um fato, aliás tão insignificante, trouxesse tais conseqüências!... Minha mãe, se não<br />

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