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O noivo de Estela, embatucado e fulo de acanhamento, gaguejou algumas<br />
palavras de cortesia e entregou-lhe a carta de Genoveva.<br />
A <strong>Condessa</strong> o fez passar para a mesma antecâmara em que recebera o<br />
Médico Misterioso, ofereceu-lhe uma cadeira e foi sentar-se a um canto, no divã, a<br />
romper vagarosamente o sobrescrito da carta.<br />
Gustavo observava-a numa atitude cerimoniosa. Por mais esforços que<br />
fizesse, não conseguia pôr-se à vontade defronte daquela mulher deslumbrante, que<br />
o dominava com o seu ar de imperatriz romana. Sentia-se oprimido por uma<br />
irresistível e humilhante fascinação.<br />
<strong>Vésper</strong> estava com efeito bela. Os braços e a garganta surgiam-lhe de uma<br />
confusão de rendas claras, como de um floco de mitológicas espumas do oceano. A<br />
cabeça, rica de contorno, destacava-se no enrodilhado artístico dos cabelos. Os<br />
olhos, mesmo quando fechados, transluziam os sutis fulgores da volúpia, e a boca o<br />
cruel segredo das paixões calculadas, das febres previstas e dos grandes delírios<br />
oficias do amor.<br />
Ao terminar a leitura, ergueu-se altiva, e perguntou ao portador da carta se<br />
sabia quem a tinha escrito.<br />
— Um seu criado... disse timidamente o rapaz.<br />
— O senhor? Mas nesse caso, entre o senhor e minha mãe há velhas<br />
relações?...<br />
— Absolutamente, minha senhora. Eu mal a conheço!...<br />
— E ela confiou-lhe tudo o que vem escrito?!...<br />
— Sua mãe havia pedido a uma vizinha que lhe fizesse a carta; a vizinha<br />
não pôde servi-la e encarregou-me por sua vez de...<br />
— Ó senhores, com efeito! Mas então, minha mãe não teve o menor<br />
escrúpulo de envolver um estranho nos mistérios de minha vida?<br />
Gustavo sorriu.<br />
— Descanse, disse ele, erguendo-se; nunca terei ocasião de falar sobre<br />
semelhante cousa!...<br />
— Hein?! perguntou ela, virando rapidamente a cabeça.<br />
— Digo que não terei ocasião de falar no que me confiou a senhora sua<br />
mãe...<br />
— E o que quer dizer o senhor com isso?<br />
— Oh, minha senhora! quero dizer que não me meto com a vida alheia.<br />
E o rapaz acrescentou, depois de uma pausa, durante a qual Ambrosina<br />
parecia meditar:<br />
— O acaso conduziu-me ao lado de sua mísera mãe; ao vê-la fiquei<br />
comovido, ofereci-me, não só para escrever essa carta, como para a entregar<br />
pessoalmente e exigir a resposta. Se a senhora, porém, não estiver por isso, eu direi<br />
à pobre lavadeira que se console, e veremos por outro lado... Sempre há de<br />
aparecer algum hospital que a receba por... compaixão.<br />
— Mas, para que diabo me está o senhor a mortificar?... Minha mãe fala-me<br />
aqui a respeito da venda que fiz da casa do Engenho Novo: eu, porém, não cometi<br />
nenhuma ilegalidade com isso — a casa era minha! — nem podia eu adivinhar que<br />
um fato, aliás tão insignificante, trouxesse tais conseqüências!... Minha mãe, se não<br />
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