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de reformar o jardim e mandar buscar um tenor! Não, não temos absolutamente<br />
vislumbre de um tenor! Quando lhe falei à primeira vez, há cousa de sete meses, se<br />
a senhora tivesse querido, eu podia nessa ocasião dar-lhe um bom ordenado, mas,<br />
o diabo dos negócios foram tão mal de lá para cá, que agora só o que posso fazer é<br />
oferecer-lhe sociedade na empresa...<br />
— E você acha que com algum dinheiro se levanta aquilo?...<br />
— Oh! oh! soprou o francês, por única resposta.<br />
— Pois eu me associo com oito contos de réis, e trabalho; serve-lhe?<br />
— Se serve! E afianço-lhe que vai ganhar rios de dinheiro!<br />
No dia seguinte, Ambrosina deu as suas providências para arranjar o capital;<br />
os oito contos de réis pingaram da algibeira dos seus admiradores, como o sumo de<br />
uma fruta espremida. Ficou a cousa afinal arranjada da seguinte forma: o então<br />
ministro da Fazenda um conto de réis; o comendador X. X., presidente de certa<br />
companhia garantida pelo Estado, dois contos de réis; o deputado Rocha Coelho,<br />
quinhentos mil-réis; mais três comendadores do comércio, a quatrocentos mil-réis<br />
por cabeça, um conto e duzentos mil-réis; um diretor de secretaria trezentos mil-réis;<br />
um banqueiro de roleta, quinhentos mil-réis; um fazendeiro, que a convidara para<br />
ficar só com ele, oitocentos mil-réis. E o que faltava ainda foi obtido em quantias<br />
pequenas de algibeiras de todos os tamanhos e jerarquias: de sorte que Ambrosina<br />
nem teve de tocar no seu fundo de reserva, como esperava, e talvez ainda<br />
guardasse algumas sobras na ocasião de reunir o produto das quotas.<br />
Pouco depois, passaram-se os documentos necessários, e era ela<br />
empresária do Alcazar.<br />
Estreou com duas pífias cançonetas e um quadro vivo, mas por tal sorte<br />
apimentou os versos e os gestos, e tão à mostra apresentou as suas formas<br />
esculturais, que o público sentiu vibrar-lhe no sangue uma faísca diabólica e<br />
levantou-se entusiasmado, a lançar no palco chapéus, lenços, bengalas e<br />
ventarolas, possuído de verdadeiro delírio.<br />
No dia seguinte, a sala da <strong>Condessa</strong> <strong>Vésper</strong> encheu-se de homens de toda<br />
a idade e posição social, e os cartões, os ramalhetes, os oferecimentos, os<br />
pequeninos presentes de consideração, choveram de todos os lados.<br />
No espetáculo imediato, subiram os bilhetes a um preço escandaloso, os<br />
cambistas encheram-se a grande, e às sete horas da noite já se não podia passar<br />
pela rua da Vala. O teatrinho parecia vir abaixo! o nome da formosa estrela enchia o<br />
ar, pronunciado em todos os sotaques e diapasões. O público sentia-se impaciente,<br />
a orquestra apressada.<br />
Afinal, subiu o pano, e Ambrosina, quase nua, viu-se calçada de flores até<br />
acima dos joelhos.<br />
Não obstante, no meio daquela porção de rosas foi envolvido um novo<br />
espinho, e este agora bem agudo — era um cartão de Gustavo.<br />
Em casa, no seu primeiro momento de independência, Ambrosina releu o tal<br />
cartão, dez, vinte vezes seguidas, e acabou por atirar-se à cama, soluçando,<br />
dominada por uma violenta comoção, que não ficou bem averiguado se era<br />
produzida pela raiva, pela excitação da noite, ou por qualquer outra causa.<br />
O cartão dizia o seguinte:<br />
"Gustavo Mostella pode à festejada <strong>Condessa</strong> <strong>Vésper</strong> o obséquio de<br />
marcar-lhe amanhã uma hora, na qual lhe possa ele falar, em confidência, a respeito<br />
de certa lavadeira por nome de Genoveva. Rua do Rezende..."<br />
Era simplesmente isto o que dizia o cartão.<br />
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