A Condessa Vésper - Unama
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www.nead.unama.br Gaspar foi noutro tempo muito meu amigo, dava-me bons conselhos, ralhava-me às vezes... E Ambrosina fazia-se muito amiga, muito camarada de Gaspar. — Não sei como este ingrato se lembrou de vir cá!... — É que lhe tenho de falar... em particular... E como ela fizesse um movimento malicioso: — Descanse, estou velho, não farei ciúmes a ninguém... — Por mim, não os importunarei, declarou o Coelho Rocha, levantando-se com seus bigodões. Esperam-me para jantar. — Eu também vou, disse o Lopes Filho, imitando-o. E foram beijar a mão da Ambrosina. — Visto isso... acrescentou o Reguinho, depois de chupar os dentes. — Mas eu, nesse caso, vim incomodá-los... Minha visita é rápida... observou o médico. Seguiram-se grandes protestos de cortesia. Houve risos, apertos de mão, oferecimentos de casa, e afinal os três deixaram o campo livre. — Venha para cá, doutor. Ficamos aqui mais à vontade, disse Ambrosina, passando o braço na cintura de Gaspar e conduzindo-o para um gabinete reservado. Agora, bem! Podemos livremente conversar. E fechou a porta. O Médico Misterioso não tinha ainda voltado a si do pasmo, que lhe causava tão inesperado acolhimento por parte de Ambrosina. Ele, que se lembrava ainda muito bem das suas últimas cenas com ela, pensou encontrá-la pouco disposta a atendê-lo, e eis que a caprichosa rapariga lhe dispensava agora todas aquelas amabilidades e se mostrava como nunca atenciosa. — Ainda está muito zangado comigo?... perguntou ela, assim que os dois se viram a sós no gabinete. — De forma alguma! respondeu Gaspar, e confesso que não contava ser tão bem recebido. — O passado, passado! Não pensemos mais em tal. Além disso, naquela época, o senhor tinha toda a razão; eu é que era uma estonteada. — Valha-nos isso! Estimo encontrá-la em tão boa disposição. Sabe? espero sair daqui devendo-lhe um grande obséquio... — A mim?... Qual é?... — Vai saber... E o médico tirou da algibeira a carta, que tão engenhosamente havia substituído pela outra que rompera. — Eu surpreendi esta carta sua, dirigida a meu enteado, guardei-a, e depois a li, com o consentimento do dono... — Ah! E ele?... 186
www.nead.unama.br — Ele não a leu... — Não leu, por quê? — Porque não deixei, ou porque ele não quis. — Não quis como?... — Para agradar-me, naturalmente; mas, como tenho pouca confiança em tudo isso, venho pessoalmente pedir-lhe que... — Que... — Que desista das ameaças que aqui estão escritas, nem só porque me intimida o escândalo iminente, como porque sei também que Gabriel não resistiria a tal provocação e acabaria por atirar-se novamente a seus pés... Ambrosina não respondeu. Estava assentada num divã muito baixinho e fitava preocupadamente um ponto no chão. — A senhora não calcula, prosseguiu o outro, quanto me custou convencer àquele pobre rapaz de que era necessário mudar de vida e trabalhar. Ele, coitado, se não tomar já e já uma resolução enérgica, perde-se totalmente, porque se irá pouco a pouco arruinando até chegar à completa miséria; é isso o que eu quero evitar. Sinto que estou velho, e preciso morrer descansado. Talvez haja um bocadinho de egoísmo nestas intenções, mas creia que eu trocaria de bom grado o resto da minha existência pela felicidade de Gabriel. E o Médico Misterioso, depois de assentar-se mais perto de Ambrosina, continuou: — Pois bem! Imagine agora o meu sobressalto ou quando, depois de conseguir de Gabriel sairmos amanhã mesmo do Brasil, e principiarmos, ao voltar, uma nova existência, dou com as palavras que lhe escreveu a senhora!.. E Gaspar leu na carta o seguinte: "Sei que vais partir amanhã e peço-te que desistas de semelhante projeto. Estou hoje convencida de que de não posso passar sem o teu amor, e como a desgraça me fez egoísta, sinto-me resolvida a desmanchar com um escândalo a tua viagem, e a mim prender-te com mil beijos. Escolhe! Se quiseres resolver as cousas por bem, aparece-me hoje mesmo em minha casa. Se me não apareceres até à noite, irei eu buscar-te onde estiveres!" — Eis aí o que vinha eu pedir-lhe que não fizesse... disse humildemente Gaspar. Sei que isso não lhe custará muito, e estou disposto a recompensar-lhe esse obséquio com aquilo que a senhora exigir... Ambrosina conservou por algum tempo o olhar caído, afinal cobriu o rosto com as mãos e desatou a soluçar. — Sou uma desgraçada, murmurava ela, sacudida pelo pranto. — Sou muito desgraçada! Gaspar passou-se para o divã, e amparou-a nos braços. — Não se mortifique, disse; não se aflija desse modo... 187
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Gaspar foi noutro tempo muito meu amigo, dava-me bons conselhos, ralhava-me às<br />
vezes...<br />
E Ambrosina fazia-se muito amiga, muito camarada de Gaspar.<br />
— Não sei como este ingrato se lembrou de vir cá!...<br />
— É que lhe tenho de falar... em particular...<br />
E como ela fizesse um movimento malicioso:<br />
— Descanse, estou velho, não farei ciúmes a ninguém...<br />
— Por mim, não os importunarei, declarou o Coelho Rocha, levantando-se<br />
com seus bigodões. Esperam-me para jantar.<br />
— Eu também vou, disse o Lopes Filho, imitando-o. E foram beijar a mão da<br />
Ambrosina.<br />
— Visto isso... acrescentou o Reguinho, depois de chupar os dentes.<br />
— Mas eu, nesse caso, vim incomodá-los... Minha visita é rápida... observou<br />
o médico.<br />
Seguiram-se grandes protestos de cortesia. Houve risos, apertos de mão,<br />
oferecimentos de casa, e afinal os três deixaram o campo livre.<br />
— Venha para cá, doutor. Ficamos aqui mais à vontade, disse Ambrosina,<br />
passando o braço na cintura de Gaspar e conduzindo-o para um gabinete reservado.<br />
Agora, bem! Podemos livremente conversar.<br />
E fechou a porta.<br />
O Médico Misterioso não tinha ainda voltado a si do pasmo, que lhe causava<br />
tão inesperado acolhimento por parte de Ambrosina. Ele, que se lembrava ainda<br />
muito bem das suas últimas cenas com ela, pensou encontrá-la pouco disposta a<br />
atendê-lo, e eis que a caprichosa rapariga lhe dispensava agora todas aquelas<br />
amabilidades e se mostrava como nunca atenciosa.<br />
— Ainda está muito zangado comigo?... perguntou ela, assim que os dois se<br />
viram a sós no gabinete.<br />
— De forma alguma! respondeu Gaspar, e confesso que não contava ser tão<br />
bem recebido.<br />
— O passado, passado! Não pensemos mais em tal. Além disso, naquela<br />
época, o senhor tinha toda a razão; eu é que era uma estonteada.<br />
— Valha-nos isso! Estimo encontrá-la em tão boa disposição. Sabe? espero<br />
sair daqui devendo-lhe um grande obséquio...<br />
— A mim?... Qual é?...<br />
— Vai saber...<br />
E o médico tirou da algibeira a carta, que tão engenhosamente havia<br />
substituído pela outra que rompera.<br />
— Eu surpreendi esta carta sua, dirigida a meu enteado, guardei-a, e depois<br />
a li, com o consentimento do dono...<br />
— Ah! E ele?...<br />
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