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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Eu próprio, ao ler os seus primeiros trabalhos literários, não pude deixar de rir, e<br />

cheguei a ter compaixão do pobre pretensioso; o segundo trabalho foi melhor,<br />

porém, que o primeiro, e, ao sexto ou décimo, já ninguém sorria, e muitos<br />

principiavam a confiar no futuro do novo literato. Vê como ele caminha agora!<br />

Pela sua perseverança, pelo seu esforço, começa a galgar posição. Já é<br />

alguém! os jornais ocupam-se dele em todo o Brasil, e pouco lhe falta para ter um<br />

nome feito. Agora é que Gustavo já não precisa absolutamente de nenhum de nós<br />

dois, e principia a sentir, por mim e por ti, uma compaixão muito mais legítima do<br />

que aquela que me inspirou noutro tempo. E, à proporção que for ele caminhando,<br />

essa compaixão, se não trabalhares, irá crescendo, na razão direta do seu<br />

desenvolvimento e na inversa da tua decadência... Sim! porque tu, se não<br />

trabalhares de qualquer forma, hás de fatalmente decair. É justamente essa<br />

diferença que há entre tu e ele. Tu gastas e ele ganha; ambos caminham para os<br />

extremos — ele da fortuna, e tu da miséria!<br />

Suponho que estás em erro...<br />

— Eu tenho certeza de que não estou. Todos nós nos achamos dentro do<br />

mesmo círculo destas leis de existência. Entretanto, o único fato que estabelece a<br />

superioridade de Gustavo sobre ti, é simplesmente a circunstância de haver ele<br />

nascido pobre, e tu rico. Para dizer tudo, acho até que tens mais talento do que ele e<br />

poderias, se não fosse a riqueza, ir muito mais longe e muito mais depressa.<br />

— Mas, a que trabalho me hei de eu agora dedicar? estou velho, Gaspar!<br />

— Qual velho, o quê! Para remediar um mal nunca é tarde! Principia por<br />

acabar de vez com a vida que levas, e vê se te casas. A família é uma<br />

responsabilidade efetiva, que te porá em ação para outras conquistas.<br />

— Casar-me? Ah, isso é que não é possível!<br />

— Não sei por que, mas adiante!<br />

— Também acho pouco fácil romper de golpe com os hábitos e as relações<br />

que me cercam.<br />

— Isto é o menos; depois da viagem que vamos fazer, nada disso existirá.<br />

Podes na volta começar vida nova.<br />

Gabriel concentrou-se por algum tempo, e afinal levantando-se da poltrona,<br />

bateu com a mão fechada sobre a mesa:<br />

— Pois está dito! exclamou ele. Vou trabalhar! Hei de ser um homem!<br />

— Muito bem! disse Gaspar, abraçando-o. Só assim não levarei remorsos<br />

para a sepultura...<br />

— Afianço-te que não os levarás!<br />

— Conto contigo!<br />

— Mas, nós precisamos partir o mais breve possível.<br />

— Quanto antes!<br />

E os dois iam entrar nos projetos da sua nova existência, quando a criada os<br />

interrompeu. Era uma carta para Gabriel.<br />

— Sem-vergonha! resmungou este, depois de a ler.<br />

— O que é? perguntou Gaspar.<br />

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