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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Deitou-se e pediu que lhe servissem chá antes de dormir. Foi ela própria<br />

levar-lhe ao leito uma chávena, em que tinha lançado duas gotas de ópio.<br />

Gaspar, depois de beber, sentiu um grande entorpecimento e adormeceu<br />

profundamente.<br />

Então, a um sinal da rapariga, acudiu da alcova imediata um homem<br />

musculoso, que se apoderou dele e o levou consigo.<br />

Gaspar foi carregado em trajes menores; todos os seus objetos de valor, o<br />

seu dinheiro e a sua roupa externa ficaram no quarto da ratoneira.<br />

O homem que o colheu atirou-o dentro de uma carruagem à porta da casa, e<br />

trepou para a boléia.<br />

O carro percorreu várias ruas, e afinal parou em uma das mais sombrias e<br />

desertas.<br />

O ladrão desceu então da boléia, sacou Gaspar da sege, deitou-se ao<br />

comprido do macadame, galgou de novo o seu posto e afastou-se fustigando os<br />

cavalos.<br />

A noite fizera-se escura e um vento frio ameaçava chuva. Gaspar continuava<br />

a dormir, estendido no chão.<br />

Só voltou a si às três horas da tarde. Ao abrir os olhos, reparou que estava<br />

deitado em um rico aposento, e que o tinham envolvido em magníficas casimiras e<br />

agasalhado os pés em edredão legítimo. Ao lado da cama, de pé, olhando para ele,<br />

havia uma mulher, que resplandecia em toda a exuberância de mocidade e beleza<br />

Gaspar supôs-se num sonho; esfregou os olhos, estendeu a cabeça. E a<br />

linda visão, com o mais amável dos sorrisos, passou-lhe uma das mãos no ombro e<br />

com a outra lhe fez sinal de silêncio.<br />

Ele tomou aquela mãozinha branca e nervosa e ficou a fitá-la por longo<br />

tempo. Depois traçou um circo com o olhar e perguntou verdadeiramente<br />

surpreendido de tudo que via em torno de si:<br />

— O que quer isto dizer? Onde me acho eu?!<br />

— Mais tarde o saberá, disse a bela desconhecida; por ora trate de fazer a<br />

sua toilette e tomar o chocolate que já está servido sobre aquela mesa. O senhor<br />

deve estar a cair de fraqueza.<br />

E saiu.<br />

Gaspar acompanhou-a com a vista, e procurou mentalmente descobrir a<br />

relação que havia nesta casa com a outra em que adormecera. Nada descobriu e<br />

resolveu aceitar o conselho que lhe dera a desconhecida. Foi ao toucador e<br />

preparou-se tomou em seguida o chocolate, e tratou de vestir-se. Mas embalde<br />

procurava pela roupa — no quarto só havia um robe-de-chambre de seda. Gaspar<br />

enfronhou-se nele.<br />

Tinha feito isto, quando sentiu passos. Era novamente a bela e misteriosa<br />

mulher.<br />

— Ainda bem, resmungou Gaspar um tanto impacientado.<br />

Ela voltou-se muito familiarmente para ele, e disse com a voz firme:<br />

— Antes de lhe explicar a razão pela qual espontaneamente o hospedei em<br />

minha casa, tenho a declarar-lhe que sou uma mulher honesta. Um pouco<br />

caprichosa talvez, mas com a consciência satisfeita pelo bom cumprimento do dever.<br />

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