19.04.2013 Views

A Condessa Vésper - Unama

A Condessa Vésper - Unama

A Condessa Vésper - Unama

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

www.nead.unama.br<br />

Entraram no campo. De todos os lados surgiam as árvores banhadas pelos<br />

primeiros raios de sol; os pássaros principiavam a cantar, e a natureza parecia ir<br />

pouco a pouco despertando de um sono grato e consolador.<br />

Juca e a rapariga não trocavam palavra. Devorador pela insônia,<br />

entorpecidos pelo álcool, pareciam cumprir ali um destino de condenados.<br />

Rasgou-se a aurora, inundando de luz os caminhos orvalhados pela noite.<br />

— Gabriel! Mendonça! exclamou Juca, sacudindo os companheiros.<br />

Acordam! Aí está o dia!<br />

Os dois apenas resmungaram.<br />

— Agora o que sabia era um gole de café quente observou a Rita, vendo<br />

que o cocheiro abria uma nova garrafa.<br />

— Pois descanse! Ali mais adiante teremos café, disse ele, apontando para<br />

uma casinha ao longe.<br />

taças.<br />

A rolha da garrafa saltou com estrondo.<br />

Mendonça abriu os olhos.<br />

— Acorda, homem! vamos brindar o sol!<br />

Gabriel foi arrancado do sono à pura força. Distribuíram-se novamente as<br />

— Hurra! gritou Juca levantando o braço. E os outros três responderam<br />

clamorosamente, a prolongar os hurras com bocejos.<br />

O repousado aspecto da natureza contrastava com a feição dissoluta<br />

daquela libertinagem ao ar livre.<br />

O carro havia parado, e o cocheiro apeara-se para ir buscar o café. Estavam<br />

perto da raiz da serra, numa encosta em que velhas árvores tranqüilas pareciam<br />

reunidas em concílio para uma deliberação religiosa. Juca descera do carro e<br />

passeava pela relva; Mendonça, de taça em punho, cantava um copia de opereta<br />

bufa; a sujeita acompanhava-o com uma pobre voz de falsete, e Gabriel, sombrio,<br />

assentado ao fundo do carro, com a vista embaciada, entretinha-se a olhar<br />

fixamente para um grupo que a pouca distância havia parado no caminho.<br />

A cabeça andava-lhe à roda.<br />

Depois de pequena pausa, o grupo continuou a andar, subindo a estrada em<br />

tardio e pesado passo.<br />

Gabriel pôde então distinguir melhor de que o grupo se compunha. Era sem<br />

dúvida algum enfermo acompanhado pela família, que demandava a serra da Tijuca<br />

em busca de ar puro. Vinha na frente uma cadeirinha carregada à moda antiga por<br />

dois negros, guardava-lhe a portinhola um homem idoso acabrunhado pela dor, e<br />

logo atrás uma velha carruagem de aluguel com a cúpula fechada.<br />

O grupo parou de novo quase defronte do carros dos folgazões.<br />

Mendonça e a loureira calaram-se instintivamente, Gabriel ergueu-se<br />

sobressaltado; através das sombras da sua embriaguez, lhe pareceu haver<br />

reconhecido aquele homem que guardava a porta do palanquim, e por ele podia<br />

calcular com segurança quem era a infeliz criatura que ia ali enferma ou talvez<br />

158

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!