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Daí a nada, o mineiro recebia uma ardente declaração de amor e<br />
correspondia contando francamente a sua vida e os seus negócios.<br />
É inútil dizer que em seguida a isso as cousas foram muito longe, e que a<br />
dourada mosca, uma vez prisioneira nas teias da ardilosa aranha, tinha de ser<br />
chuchadinha até a última gota de sangue.<br />
O jantar de Gabriel, a que a sugadora do mineiro não faltou do meio para o<br />
fim, correu com todas as suas costumadas pândegas; pouco apetite, muita chalaça<br />
tola, muito riso forçado e grande variedade de vinhos. Às duas da madrugada, a<br />
Cantagalense deixou-se ficar no hotel, e os outros foram carnavalear um pouco aos<br />
"Tenentes do Diabo".<br />
Às quatro meteram-se de novo no carro, e mandaram tocar para a Tijuca, no<br />
meio de uma terrível gritaria.<br />
O Costa Mendonça, que ocupava o banco da frente com o Paiva, parecia ter<br />
pólvora no sangue e não ficava quieto um só instante.<br />
A Rita Beijoca achava-lhe tanta graça, que chegava a chorar à força de<br />
gargalhadas.<br />
Gabriel, meio deitado sobre ela, divertia-se em afagar-lhe o queixo.<br />
— Olha que me sufocas! observou a folgazã, tomando respiração com mais<br />
força. Não é assim tão levezinho que se possa levar ao colo! Põe-te direito!<br />
Mas Gabriel, prostrado de fadiga, fazia ouvidos de mercador. A Beijoca<br />
resignou-se a procurar por si posição menos incômoda.<br />
Mendonça calara-se afinal, e a viagem começava a tomar um caráter triste;<br />
agora só se ouvia de quando em quando a voz grossa do cocheiro, que arriscava a<br />
sua pilhéria para o carro.<br />
Ia se tornando aquilo aborrecido.<br />
— Champanha! gritou Juca, fazendo saltar a rolha de uma garrafa. Vem aí o<br />
dia! é preciso brindá-lo!<br />
Encheram-se as taças. A Rita, com o Gabriel ao colo, derramava-lhe o vinho<br />
na boca como se desse de beber a um pássaro. Ele, todo derreado, sorvia o líquido,<br />
indiferentemente. Costa Mendonça, que se queixava de suores frios, vomitava nessa<br />
ocasião, amparado pelo cocheiro. A sujeita e o Juca fingiam beber. Parecia haver<br />
entre os dois qualquer tácito concerto.<br />
— Ah! agora sou outro homem! exclamou Mendonça, erguendo-se, com o<br />
rosto sumamente lívido. Posso recomeçar... disse ele em tom sinistro.<br />
E emborcou uma taça de vinho.<br />
— Eu também sou filho de Deus! lembrou o cocheiro, vendo que lhe não<br />
ofereciam de beber.<br />
Passaram-lhe uma garrafa.<br />
Mendonça havia criado novo ânimo, mas foi por pouco tempo; dentro de<br />
meia hora caiu prostrado sobre as almofadas. A rapariga então, ajudada pelo Juca,<br />
pousou Gabriel sobre ele, deixando-os que dormissem à vontade, e em seguida,<br />
voltou-se para o outro e pegaram-se a beijos.<br />
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