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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

na mão de algum vadio que o deite à rua, como quem não sabe quanto me custou a<br />

ganhá-lo, e acabe por atirar na miséria a esta pobre de Cristo!<br />

Moscoso abriu a chorar, e entre soluços pediu ao patrão que se calasse por<br />

amor de Deus, e não se estivesse a mortificar com semelhantes idéias.<br />

Mas o homem não o atendeu e, segurando uma das mãos do caixeiro e<br />

outra da pupila, continuou com a voz sufocada:<br />

— Deixa-te disso, Luís! sei que morro e não quero, pela primeira vez em<br />

minha vida, largar os meus negócios desamparados... Não me posso ir, sem cuidar<br />

do futuro desta criatura; eu já lhe toquei a teu respeito, ela concordou; de tua parte<br />

espero que não me hás de deixar mal... Minha pupila, coitada! não é nenhuma<br />

beleza, nem é nenhuma senhora de salão, mas tem boa cabeça e um coração que é<br />

uma jóia. Fica-te com ela, toma-a por esposa. Só desejo que a trates sempre como<br />

eu sempre a tratei, e que sustentes o nome e o crédito desta casa, que fiz com a<br />

minha atividade e com a minha perseverança. Tu és econômico e sensato, virás a<br />

dar um bom marido, e...<br />

O enfermo, não pôde continuar, e com um gesto pediu o remédio.<br />

Moscoso serviu-lhe, recomendando que se calasse.<br />

Havia tempo, que diabo! para tratarem daquilo. Ficasse o patrão<br />

descansado; ele cumpriria as suas últimas ordens, com o mesmo zelo com que<br />

cumpriu as primeiras recebidas naquela casa!<br />

O patrão fez um gesto afirmativo e puxou para o seu peito descarnado as<br />

cabeças dos seus dois herdeiros, que se vergaram condescendentemente, em uma<br />

posição forçada, cada qual uma careta mais feia.<br />

A pequena chorava, e o Moscoso fazia-lhe sinais com os olhos para que<br />

sustivesse o pranto defronte do moribundo.<br />

O médico chegou depois à hora do costume, demorou-se o tempo que a<br />

formalidade exigia, e saiu, dando de ombros.<br />

O doente expirou no dia seguinte.<br />

Meses depois, casava-se Moscoso com a pupila do defunto patrão.<br />

Chamava-se Genoveva e era uma raparigaça de seus vinte e poucos anos, muito<br />

tola de uma gordura desengraçada. Parecia toda feita de almofadas; as carnes da<br />

cara tremiam-lhe quando ela andava, os olhos tinham uns tons amarelados e<br />

mortos; o cabelo vivia-lhe pregado ao casco da cabeça com suor, por falta de<br />

asseio. Era de uma brancura de sebo velho, falava muito descansado e com um<br />

hálito azedo; as suas mãos papudas e umidamente macias, davam em quem as<br />

tocasse a sensação repulsiva que se experimentava ao pegar na barriga de uma<br />

lagartixa.<br />

Moscoso apossou-se sofregamente dessa mulher, como quem se abraça a<br />

um colchão infecto e sebento, cheio porém, de apólices da dívida pública.<br />

Amou-a com todo o ardor da sua ambição, cercou-a de carinhos, de<br />

desvelos, de meiguices. Melhorou a sua casa comum de residência, comprou boa<br />

roupa, assinou jornais, freqüentou teatros e reuniões familiares, afinal conspirou com<br />

alguns colegas a respeito de uma comenda da Vila Viçosa, e aumentou<br />

sorrateiramente duas linhas em cada mofina contra o coronel.<br />

No prazo marcado pela fisiologia, Genoveva, deitou ao mundo uma criança.<br />

Era menina e foi batizada com o doce nome de Ambrosina.<br />

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