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www.nead.unama.br<br />
comigo para onde melhor lhe parecer em toda e qualquer parte do mundo. Os<br />
recursos pecuniários para a viagem não faltarão, porque, como saberá, acabo de ser<br />
largamente premiado pela loteria. E estará à sua disposição, desde que a senhora<br />
assim o decrete com uma simples palavra.<br />
Espero a sua resposta até depois de amanhã. — Melo Rosa".<br />
— Esse "depois de amanhã" é hoje, disse Jorge, porque esta carta chegou<br />
anteontem.<br />
Gabriel ficou pensativo, mas no íntimo sentiu-se feliz com aquelas palavras;<br />
provavam-lhe elas que a requestada repelia o Melo.<br />
Entretanto, tudo era arranjado pela própria Ambrosina; foi ela quem<br />
imaginou a carta, quem a escreveu e quem a pôs ao alcance do cocheiro,<br />
calculando que este desconfiado como andava, a iria mostrar logo ao patrão, e o<br />
patrão ao enteado.<br />
Gabriel resolveu ir dali mesmo à Praia do Russell.<br />
— Olhe, Doutor, disse-lhe Jorge; pode vossemecê contar comigo para o que<br />
der e vier! Se for preciso que o velhaco do tal Melo não importune, é só mo dizer<br />
porque eu me encarrego de tudo!...<br />
— Como assim?<br />
— Descanse, que lhe não tocarei num cabelo! Apenas o que faço é afastá-lo<br />
durante o tempo necessário para tratar vossemecê de seus interesses. Depois... ele<br />
que esbraveje à vontade! Siga viagem o Doutor com a sua Do.... e o resto fica por<br />
minha conta!<br />
Gabriel aprovou a idéia, e conversou demoradamente sobre ela com o<br />
cocheiro. Em seguida, foi ter com Ambrosina.<br />
— Estimo que chegasse! exclamou a bela rapariga, a envolver-lhe o corpo<br />
com os braços. Não imaginas o que vai por cá! Assenta-te, descansa um pouco,<br />
porque tenho cousas muito sérias a comunicar-te...<br />
Gabriel assentou-se, em silêncio. Ambrosina chegou uma cadeira para junto<br />
da dele, e, com uma voz misteriosa e cheia de movimentos reservados, disse-lhe:<br />
— Sabes que o Melo, desde aquele dia de loucuras lá em casa, persuadiuse<br />
de que o amo?...<br />
O rapaz meneou afirmativamente a cabeça.<br />
— Pois bem; meteu-se-lhe em idéia que eu devia separar-me de ti para viver<br />
com ele!... Aquela peste não se enxerga! Ora, tenho pena de haver perdido uma<br />
carta que me remeteu o traste! Guardava-a justamente para te mostrar... Não sei<br />
onde a pus! Estou doida de procurá-la! Entre outras banalidades, diz o tolo haver<br />
tirado um prêmio na loteria. Querer seduzir-me com dinheiro!... A mim, que tu bem<br />
sabes quanto sou desinteressada! a mim, que te amaria da mesma forma, se fosses<br />
o mais pobre dos homens! Bem! Eu não dei um passo; nada quis resolver, sem falar<br />
contigo... Tu és o senhor de meus atos, e como tal, fica a teu arbítrio fazer o que<br />
entenderes!<br />
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