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A Condessa Vésper - Unama

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www.nead.unama.br<br />

Ora, a casa do veterano era mais freqüentada por velhos e ásperos<br />

camaradas dele, gente tostada de pólvora e tabaco, entre a qual não encontraria de<br />

certo a tímida rola o companheiro desejado. E o coronel tão alheio parecia aos<br />

solitários arrulhos da filha, que a menina chegou a desconfiar que o pai se não<br />

queria separar dela.<br />

Com mais três anos por cima, e sem que aquele o percebesse, começou a<br />

irmã de Gaspar a revelar perturbações mais sérias no organismo e a tornar-se<br />

sumamente nervosa e macambúzia.<br />

Foi então que o caixeiro da taverna em frente da casa, um rapaz português<br />

de pouco mais de vinte anos, bonito e forte, deu em requestá-la com sorrisos e<br />

olhares ternos.<br />

E o caso é que a filha do coronel, a princípio revoltada, depois apenas<br />

retraída, e afinal já hesitante, acabou por aceitar abertamente o namoro do caixeiro.<br />

Trocaram cartas, e os protestos amorosos do rapaz, escritos com pouca<br />

ortografia e muito faro no dote da pequena, a esta enchiam de deliciosos anseios e a<br />

deixavam a cismar horas perdidas nas felicidades do lar doméstico.<br />

Um belo dia autorizou-o ela a pedi-la, ao pai, e o rapaz, no primeiro domingo<br />

de descanso, enfiou um fato novo, embolsou a carta em que vinha a autorização do<br />

pedido, e apresentou-se ao veterano com um discurso na ponta da língua.<br />

A resposta que teve foi uma formidável gargalhada, uma dessas<br />

gargalhadas escandalosas de soldado velho, mais pungentes e agressivas que<br />

qualquer formal injúria.<br />

O pobre moço desceu as escadas cambaleando, ébrio de confusão e<br />

sufocado de cólera.<br />

Esse moço era, um punhado de anos mais tarde, o jovial e próspero<br />

comendador Moscoso.<br />

Ao sair da casa do coronel, Moscoso jurou vingar-se. Atravessou a rua<br />

apopléctico e, metendo-se no cubículo que lhe servia de quarto de dormir, atirou-se<br />

ao catre com uma explosão de soluços.<br />

À noite escaldava de febre. Foi uma noite de vertigem, cálculos de fortuna e<br />

planos de vingança. O caixeiro via-se mentalmente a economizar, a passar misérias,<br />

para ajuntar pecúlio e armar um princípio sólido de vida. As fontes estalavam-lhe.<br />

Sonhava-se rico, já cercado de considerações, levantando inveja nos vencidos,<br />

abrindo por todos os lados cumprimentos e sorrisos de adulação. Então é que<br />

aquele triste do coronel havia de saber o que era bom! Oh! ele, o pobre caixeiro,<br />

seria implacável no seu ódio! o coronel havia de pagar duro! havia de puxar pelas<br />

orelhas sem deitar sangue; havia de arrepender-se de lhe não ter dado a filha!<br />

Moscoso havia de ver Anita amarrada a um diabo, que a enchesse de maus tratos e<br />

necessidades! O tempo é que havia de mostrar<br />

E inteiramente devorado por estas idéias, o caixeiro virava-se e revirava-se<br />

na cama, sem conciliar o sono.<br />

Amanhecera abatido, cheio de febre e possuído de uma grande má vontade<br />

por tudo e por todos.<br />

Desde então principiou para ele uma nova existência. Tinha uma idéia fixa:<br />

tratava-se agora de ajuntar dinheiro; estava disposto a suportar tudo, contanto que o<br />

capital se fizesse e avultasse!<br />

Moscoso principiou por mudar de gênero de comércio; meteu-se para a rua<br />

da Saúde, arranjando-se em uma casa de café.<br />

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